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Especial O Incrível Hulk - O filme de 2003

Em 2003, os filmes da Marvel haviam começado a invadir os cinemas. O primeiro e o segundo X-Men haviam sido um sucesso absoluto e Homem-Aranha ainda estava batendo recordes 2 anos depois de seu lançamento. A editora, então, resolveu investir em praticamente todos seus personagens. Demolidor já havia saído no começo daquele ano, e em junho todos aguardavam ansiosos pela estréia de Hulk, dirigido por ninguem menos que Ang Lee, renomado cineasta chinês responsável por O Tigre e o Dragão e que faria anos depois O Segredo de Brokeback Mountain, garantindo uma merecida estatueta do Oscar na estante.

O problema é que praticamente todo fã do Gigante Esmeralda esperava um remake do antigo seriado disfarçado de adaptação de HQ. Ao contrário, o filme era uma versão atualizada da história e ousava ser sério e adulto demais para os padrões estabelecidos sobre como se fazer um filme de quadrinhos. A produção causou estranheza tanto pelo lado do espectador comum, como da crítica especializada que não foi lá muito generosa nos comentários.

Porém, de forma alguma Hulk é ruim. É provavelmente um dos melhores exemplares de adaptações de quadrinhos já feitas para o cinema. Não é fiel ao original como Homem-Aranha ou Batman Begins, mas constrói tão bem os personagens que fidelidade é a última coisa que importa aqui. Ang Lee, com sua sensibilidade, conseguiu fazer do Dr. Bruce Banner um personagem muito mais complexo do que sua contraparte dos quadrinhos. Muitos chiaram um pouco com o fato do personagem ser alterado genéticamente e os raios gama apenas liberarem uma espécie de mutação latente. Mas, se analisarmos sob o prisma de adaptação, esse tipo de modificação na história é coerente, inclusive, com o que a própria Marvel fez com sua linha Ultimate, uma nova versão de seu universo, construído para uma nova geração de leitores. A interpretação de Eric Bana foi fundamental para essa construção, mostrando o Dr. Banner como um nerd contido e problemático. Ele não é jovem e alegre (apesar dos problemas) como Peter Parker, ou um milionário mimado como Tony Stark, mas sim um humano que passou por uma terrivel experiência na infância tornando-o objeto de pesquisa dos sonhos de qualquer psiquiatra. Pra piorar a situação do pobre cientista, no decorrer da história ele precisa enfrentar o próprio pai, que nos quadrinhos não é o alter-ego do Homem-Absorvente, mas que, novamente, como adaptação, funciona muito bem. Mesmo que o final seja chamado de anti-climax, por sua ação cerebral e abstrata.

Outro fator positivo no Hulk de Ang Lee é a interpretação de Nick Nolte, como o pai de Bruce, David Banner (uma homenagem ao seriado de TV). O ator está fantástico e rouba todas as cenas em que está inserido. Seus diálogos sobre o exército e as religiões são muito bem construídos e embora sejam a motivação do vilão, são muito relevantes ao mundo atual.

O problema, como dito acima, é que este é um filme sério. Adulto. E não uma diversão pra adolescentes alienados. Por isso não deu o lucro que a Universal e a Marvel esperavam. O que atrasou sua continuação em 5 anos. Na verdade, O Incrível Hulk, que estréia na sexta, dia 13, nem pode ser chamado de continuação. É uma retomada da franquia que leva alguns aspectos do filme de 2003 em consideração, mas praticamente reconta a história, de uma forma mais parecida com a série dos anos 70. Os atores mudaram, agora Edward Norton interpreta Bruce Banner. Uma escolha acertada, já que Norton é um dos melhores de sua geração e pode superar, e muito, o que Eric Bana fez com o personagem. Outra modificação óbvia na nova produção é que a história é mais voltada para a ação e menos para o drama, apesar das primeiras resenhas dizerem que as duas coisas estão equilibradas, para surpresa de quem esperava que Louis Leterrier, o novo diretor, fosse fazer um filme mais frenético como seus anteriores Carga Explosiva 1 e 2.

Resta agora saber se a versão de 2003 será suplantada por esta agora, o que particularmente deixaria os fãs muito contentes, ou se com o novo filme, a película de Ang Lee passe a ser mais cultuada, ao invés de receber comentários depreciativos de quem, obviamente não entendeu nem um pouco a proposta do diretor chinês. E, talvez, nem a proposta do personagem original. Uma metáfora psicológica, acima de tudo.

Continua...
 
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