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Crítica: 007-Quantum of Solace

De jeito nenhum que Quantum of Solace é melhor que seu antecessor, Cassino Royale. Mas isso significa que a 22ª aventura do agente secreto é ruim? Não. Longe disso. É o filme anterior que é excelente e dificilmente as próximas produções envolvendo 007 vão chegar no mesmo nível.

Quantum é a continuação direta de Cassino, começa exatamente onde este último termina, com James Bond levando o Sr. White pra ser interrogado. A cena pré-créditos é espetacular, nos seus cortes rápidos no melhor estilo Jason Bourne. Sim, há muito da franquia do outro JB nesse filme, parte por “culpa” de Dan Bradley que coreografou as cenas de ação da trilogia protagonizada por Matt Damon e que agora entrou pro time de Bond, e parte por culpa do sucesso de Bourne que praticamente redefiniu as cenas de ação no cinema. Diminui a sensação que este é um filme de 007? Um pouco, mas somos lembrados que estamos diante de uma aventura do agente britânico mais famoso do mundo quando o filme nos leva a viajar da Itália até Londres, depois pro Haiti, Bolívia e Rússia. Aliás, sensacional a idéia de colocar o nome dos lugares na tela com caracteres típicos de cada cultura.

O que acontece depois da abertura com a música de Jack White e Alicia Keys é que o Sr. White revela que há algo muito maior o comandando, uma organização que está por trás do poder, de governos e de grandes empresas. Assim como a SPECTRE, que deu trabalho a Sean Connery nos primeiros filmes de Bond, a Quantum não tem lados, não interessa se é leste ou oeste, esquerda ou direita. Tudo isso é explicado mais pra frente, num diálogo que faz referência ao que o Dr. No diz quanto a organização no primeiro filme do agente. Aliás, referências não faltam. Seja na abertura, que também usa elementos da primeira aventura cinematográfica de Bond (repare em como os nomes dos envolvidos na produção aparecem), seja na homenagem a Goldfinger ou no momento O Espião que me Amava. Sempre há algum pequeno elemento lembrando o espectador: “É diferente, mas ainda é um filme do 007!”.

E, por ser diferente não significa ser igual ao Bourne, como muitos críticos andam dizendo por aí. Ele não é igual aos outros filmes da franquia porque a mão do diretor Marc Forster foi firme o suficiente pra criar momentos de verdadeira competência cinematográfica. A própria cena pós-créditos, em que somos apresentados a situação do Sr. White enquanto é mostrada cenas do que acontece ao mesmo tempo, a corrida de cavalos de Pálio na Itália, é de uma habilidade impressionante. O mesmo pode-se dizer da sequência da ópera Tosca de Puccini. A edição é uma aula de como montar um filme. São detalhes artísticos num exemplar de uma série de cultura pop. Só por isso, Quantum of Solace já valeria o ingresso.

Mas não só de técnica vive este filme. É hora de elogiar Daniel Craig. O ator está perfeito no papel. A cada cena, percebe-se o quanto o personagem se torna, aos poucos, aquele que ficou tão famoso ao longo de mais de 20 filmes. Do capanga que mata por qualquer motivo em Cassino Royale, a um verdadeiro agente secreto ao final desta nova aventura. Mas não se engane. Há mais elementos do Bond literário do que do Bond cinematográfico, então por mais que ele se aproxime do 007 que o grande público se acostumou tanto nas próximas aventuras, é de sua contraparte dos livros que Craig busca se espelhar. Quem rouba a cena também é Judi Dench, reprisando o papel de M, a chefe do MI-6 (e não M16, como insiste a legenda). O relacionamento dos dois personagens poderia ter sido melhor desenvolvido, mas o resultado final é bem satisfatório. Mathieu Almaric como o vilão Dominc Greene é o que mais deixa a desejar. O ator francês, elogiadíssimo como o personagem principal de O Escafandro e a Borboleta, cria um personagem caricato e cheio de tiques (a luta entre ele e Bond no final que o diga). Há também Jeffrey Wright como o agente da CIA, Felix Leiter, desenvolvendo seu personagem para um futura participação mais ativa nos filmes. E, no quesito Bondgirl, Gemma Arterton como a agente Strawberry Fields (ok, pode rir) até merecia mais tempo de tela, mas é Olga Kurylenko como Camille que realmente chama a atenção. Ian Fleming (o criador de Bond, pra quem não sabe) ficaria orgulhoso da personagem, a mais problemática das Bondgirls. A mais marcada, física e psicologicamente.

Quanto a falta de alguns elementos clássicos, por incrível que pareça, não incomoda. A essa altura todo mundo já sabe que Craig não diz “Bond, James Bond” e nem pede um Martini “Shaken, not Stirred”. Mas, se considerarmos Quantum a segunda metade de uma história, ele já se apresenta com a famosa frase ao final do filme anterior. Já sobre sua predileção pelo “batido e não mexido”, bem, ele nem sabe preparar um drink ainda. E o “gunbarrel”, aquela famosa introdução com 007 atirando em direção à camera ficou pro final, o que faz todo sentido do mundo, já que o “gunbarrel” de Quantum está no começo de Cassino.

Ao final de tudo, Quantum of Solace acaba sendo uma grata surpresa, principalmente pra quem for ao cinema sem a esperança de um filme melhor que Cassino Royale. Como já citado lá no começo da resenha, essa seria uma missão quase impossível pela escassez de boas histórias e também por ter sido o último livro de Ian Fleming a ser adaptado pro cinema.
Continua...
 
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