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Crítica: Rio

Atualmente as animações estão divididas em 3 categorias: as da Pixar, que buscam cativar o espectador com histórias inteligentes e visual perfeito, os trabalhos da Dreamworks, que chamam atenção pelo apelo de comédia e sátiras à histórias conhecidas, sem perder terreno na área técnica e todo o resto, que tenta unir um pouco das duas características das primeiras, mas no fim acaba sempre se voltando para fórmulas batidas, embora mostre alguma evolução em termos de qualidade em texturas e cenários. No meio da primeira década de 2000, um animador brasileiro tentou sair da mesmice e criou, junto com outro diretor, Chris Edge, o primeiro Era do Gelo, um filme divertido, com ótimas ideias visuais e com uma trama que agradava tanto adultos, quanto crianças, estratégia adotada pela Pixar e Dreamworks e que funcionou muito bem neste exemplo. Carlos Saldanha, o brasileiro, assumiu o posto de diretor em mais dois filmes da série, que se não foram bons como o original, também não fizeram feio. Por isso, a estreia de Rio, novo trabalho de Saldanha, gerou tanta expectativa. Claro, isso e o fato do longa se passar na capital carioca, mostrando ao mundo um Brasil diferente do que geralmente se vê. Mais alegre e colorido e menos dominado pela criminalidade das favelas.


A história mostra Blu, uma ararinha-azul, último macho de sua espécie, que cresce nos EUA, aos cuidados de uma garota, Linda. Um belo dia, um ornitólogo brasileiro convence a moça a vir para o Brasil e acasalar Blu com a última fêmea, Jade (num erro grotesco de adaptação de nome quando o original seria Jewel) para tentar evitar a total extinção da ameaçada espécie. Chegando no Rio, acabam tendo de enfrentar traficantes de aves, ao mesmo tempo que Blu tenta se encontrar com sua natureza e aprender a voar, como a necessidade o obriga. A premissa é até interessante, a de mostrar como é difícil sair de uma situação confortável para enfrentar a vida sem ajuda de ninguém. O problema é que o roteiro não colabora, e a direção também não se mostra tão interessada em criar momentos interessantes o suficiente pra sustentar a mensagem.


Em cada piada e gag ultrapassada, tem-se a impressão de um esforço enorme pra tirar risadas do público. As crianças adoram por não ter tanto discernimento, e os adultos entram no embalo, mas provavelmente se esquecerão do filme ao saírem do cinema. A trilha sonora só é bem utilizada quando as músicas já são consagradas. Quando entram os temas originais do filme, porém, é um desastre. As músicas não empolgam e as sequências, principalmente a do vilão, Nigel, chegam a ser entediantes.


Outro problema de Rio é Saldanha ter se deixado levar por estereótipos mais do que clichês ao retratar a Cidade Maravilhosa. Tecnicamente está belíssima (a tomada aérea que mostra o Cristo com a cidade ao fundo é magnífica), mas a caracterização dos personagens beira a vergonha alheia. Não do segurança que usa fantasia de carnaval por baixo da roupa, mas do próprio diretor, que mesmo não tendo compromisso com a realidade, parece ter tido preguiça na hora de colocar seu próprio povo pro mundo inteiro ver. Ao invés de tentar usar a criatividade, fez uso de situações banais que, pelo menos os brasileiros que moram no Brasil, já estão cansados de ver.


Infelizmente Saldanha, que tem potencial pra não ficar relegado à terceira categoria de "todo o resto", não conseguiu fazer de Rio algo além disso. E, por mais que as animações da Dreamworks estejam cada vez mais caindo na mesmice, até as produções da casa do Shrek surgem mais interessantes, já que o trailer de Kung Fu Panda provavelmente é mais engraçado que os 90 minutos da animação de origem nacional, mas que nem de longe, mantém o espírito irreverente de um povo, também relegado à "terceira" pelo resto do mundo, mas que nunca perde a chance de fazer boas piadas de si mesmo. Parece que Saldanha está há tempos demais longe do Brasil.

Continua...
 
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