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Crítica: As Aventuras de Tintim - O Segredo do Licorne

Heróis de ação que não tem nenhum super-poder ou algo do tipo, precisam se valer da própria inteligência para que suas aventuras sempre terminem bem. Com Tintim não é diferente mas, por ser um personagem infantil e necessariamente precisar incentivar seu público, o jovem repórter também entende que além da sua esperteza natural, o que o fará resolver seus mistérios ou sair de grandes problemas é o conhecimento adquirido através de experiências próprias ou pela simples busca na leitura. As Aventuras de Tintim - O Segredo do Licorne, que adapta a popular criação do autor belga Hergé, é, além de uma aventura de excelente qualidade, um lembrete da importância do saber, e de que toda informação, uma hora ou outra, há de ser útil.

Essa ode ao conhecimento é o maior legado da obra de Hergé à quem cresceu lendo as tiras de jornal ou aos álbuns em quadrinhos, ou assistindo ao famoso desenho animado de Tintim. O incentivo à leitura era uma constante em sua obra. No longa, o momento que mais define isso está logo no início, quando o personagem principal precisa descobrir tudo que puder sobre o antigo galeão Licorne. Ele diz algo como "vamos ao lugar onde estão as respostas a tudo" e logo em seguida a cena transporta o espectador para o interior de uma biblioteca. Na era do Google, é gratificante esse tipo de referência no texto.

O filme, dirigido por Steven Spielberg e produzido por Peter Jackson, une três famosas histórias de Tintim: O Segredo do Licorne, O Caranguejo das Tenazes de Ouro e O Tesouro de Rackham, o Terrível. Graças ao roteiro de Steven Moffat, Edgar Wright e Joe Cornish essa salada de tramas se torna bem orgânica e serve a seus propósitos. O primeiro, dar ao herói, vivido através de captura de movimentos por Jamie Bell, uma espécie de MacGuffin, ao melhor estilo Indiana Jones, com o mistério envolvendo as réplicas do navio do subtítulo e seu tesouro. O segundo, introduzir na trama o Capitão Haddock, cujos movimentos são de Andy Serkis. E o terceiro, dar ao espectador um gostinho de quero mais para a próxima aventura de Tintim nos cinemas.

A tecnologia empregada para dar vida aos personagens de Hergé pode trazer uma certa desconfiança já que nem O Expresso Polar ou Os Fantasmas de Scrooge convenceram muito o público de que este pode ser o futuro das animações. Mas em Tintim, a captura de movimentos está excelente, e serve ao maior objetivo do longa, que é o de homenagear a obra do quadrinista belga e seus traços simples e marcantes. Por mais expressivo que qualquer personagem ali possa ser, suas características são todas fiéis às suas contrapartes de papel. Além do mais, Spielberg volta à velha forma, dirigindo uma aventura digna das melhores matinês, como já fez diversas vezes. A diferença aqui é que o cineasta, por estar no comando de uma animação, não teve limitações físicas que o impedissem de criar nada. Isso fica bem claro no alardeado plano sequência em um dos momentos mais impressionantes do longa.

Além disso, o filme foi rodado em 3D com a mesma técnica de Avatar, em que Spielberg, assim como James Cameron, tinha instantaneamente, numa tela acoplada à câmera, o esboço de como a cena ficaria já com algumas texturas aplicadas e no cenário pretendido. Os efeitos em três dimensões são competentes e não se limitam à objetos atirados na tela. A noção de profundidade é constante e auxilia a dinâmica da narrativa, como na sequência em que Haddock interpreta a história de seu antepassado, o capitão do Licorne. O flashback aliás, também é um dos pontos altos da produção. A ação em alto mar é empolgante e conta com, além dos efeitos visuais, a trilha de John Williams que, neste filme, talvez pra rebater as constantes críticas à sua obra, já que muitos o consideram um excelente compositor de temas, mas não de músicas incidentais, não cria nenhuma música marcante para o personagem e se concentra mais no que as cenas querem passar. E, embora Tintim não tenha um tema pomposo como Indiana Jones ou Star Wars, Williams se sai muito bem em sua composição para o longa.

Em As Aventuras de Tintim, Spielberg faz o que melhor sabe. Diverte, emociona, hipnotiza com sua forma já consagrada de narrativa e entrega uma aventura digna da obra original ao mesmo tempo que cria o ponto de partida de uma, assim pretendida, franquia de sucesso. Pelas reações das crianças na sala de cinema, e dos adultos também, o legado de Hergé está em boas mãos.
Continua...
 
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