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Crítica: 127 Horas

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  • sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
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  • Alexandre Luiz
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  • ATENÇÃO: O texto abaixo contém pontos cruciais da trama. Se você não conhece a história de Aron Ralston, assista ao filme antes. Ou continue lendo caso não se importe em saber o final da história!

    O que faz um filme se tornar elegível para o Oscar é o seu conjunto. Não adianta um bom roteiro, sem uma direção à altura. Também como não adianta nada disso sem um bom editor. E ainda, se tudo isso estivesse redondinho, a falta de uma trilha sonora arruinaria qualquer projeto. 127 Horas, estreia desta sexta no Brasil, é candidato ao prêmio da Academia em 2011 justamente por tudo isso. O inglês Danny Boyle mostra mais uma vez, com grande competência, porque é um dos diretores mais venerados atualmente. Depois de se Oscarizar com Quem Quer Ser um Milionário, conta, através de sua lente frenética, uma história real.

    O filme narra a aventura de Aron Ralston (James Franco), alpinista que em 2003 ficou preso em um canyon quando uma rocha esmagou seu braço contra uma das paredes do lugar. Ralston passou 127 horas ali, até perceber que para sobreviver teria que amputá-lo. A sequência inicial apresenta o protagonista através de tela dividida em 3, flashs rápidos e o mais importante: prenúncios de que algo está pra dar errado. Ele esquece seu canivete suíço na viagem, passa a saída que deveria pegar pra chegar ao local e quase se arrebenta em sua bicicleta atravessando o deserto que leva ao canyon Blue John. Como um último alerta, desvia do caminho para ajudar duas garotas que se perderam por ali. Quando finalmente Aron chega a seu objetivo, o acidente acontece, e o filme, de certa forma realmente começa: note como o nome do longa só aparece exatamente depois disso.

    Durante o período que fica isolado, o alpinista, por falta de água, começa a ter delírios que misturam lembranças de chances perdidas, infância e atos egoístas como deixar de atender os telefonemas da irmã e da mãe. A partir daqui, Boyle aplica sua técnica de videoclipe para fazer o espectador "sentir" a agonia de seu herói. Cortes rápidos, câmera em locais nem um pouco convencionais e a trilha de A. R. Rahman trazem dinâmica e ritmo a um filme que se baseia inteiramente na presença de tela de James Franco. E o ator tem seus bons momentos em frente à duas câmeras, a do diretor e a própria. Sim, por que Ralston pode ter se esquecido do canivete suíço, mas sua vaidade não deixou de lado uma câmera de video e uma fotográfica.

    Um ponto forte do longa são as referências de Boyle nos delírios de Aron. São quase que exclusivamente televisivas. Os comerciais de refrigerante quando o protagonista se lembra da garrafa de Gatorade que ficou em seu carro, as introduções de jornais matutinos quando o dia amanhece. É o filme de superação da geração "babá-eletrônica".

    O diretor faz um trabalho sem igual, aliado a sua equipe, ao criar uma história de sobrevivência que praticamente emula no espectador toda a claustrofobia e incômodo que o alpinista sentiu naqueles dias. Seu clímax é tão forte que cada golpe da faca vagabunda e falsificada que Ralston usa para decepar seu braço é uma contorcida de quem está assistindo. E não há como não se sentir aliviado, mas sem voz para clamar por socorro, quando finalmente ele consegue encontrar alguém para lhe ajudar. São 90 minutos de pura técnica misturada com a emoção de quem começa a ter noção de que talvez não seja tão esperto assim. Afinal, sair pra uma aventura dessas e não dizer a ninguém pra onde foi não é uma atitude das mais inteligentes.

    Se 127 Horas merece ou não o Oscar, essa não é a discussão. O que importa é que Boyle, ganhando ou não a estatueta, colocou em seu curriculo mais uma obra digna da importância cinematográfica de seus outros trabalhos. Porque cinema se faz assim mesmo com união de departamentos. Assim como a lição de Ralston, fazer um bom filme é uma jornada onde o ego não pode tomar conta.

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