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Baú do RE-ENTER: Laura

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  • quarta-feira, 18 de maio de 2011
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  • Alexandre Luiz
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  • Se uma das características do noir é analisar e adentrar a personalidade obscura do ser humano, Laura, dirigido por Otto Preminger inova, pois não apenas usa essa marca do gênero na história, mas também em sua montagem, que privilegia o suspense psicológico, fundamental para o desenvolvimento da trama.


    O filme, de 1944, começa evocando o assassinato de uma publicitária, Laura Hunt (Gene Tierney). Na investigação, um triângulo amoroso é revelado. Waldo Lydecker (Cliffton Webb, sensacional do papel), um jornalista, era amigo da moça, noiva de Shelby Carpenter (Vincent Price). Mas, ele sentia mais do que amizade por ela, e por isso resolve ajudar na investigação, que aponta o noivo como o criminoso. Porém, na metade do filme, uma reviravolta no melhor estilo Um Corpo Que Cai muda a história, e o detetive encarregado de desvendar o crime (Dana Andrews) desenvolve um plano mirabolante para prender o verdadeiro culpado.


    Ninguém na história é santo. Claro, é um filme noir. O que justifica as ações perigosas do detetive, as motivações de Waldo e a natureza um tanto dúbia de Laura. A interpretação de Cliffton Webb como o cínico jornalista causa risos do espectador atento a seu humor negro e um certo desconforto àqueles que percebem os preconceitos, as manias e a maneira ranzinza do personagem. Por várias vezes, ele zomba de Shelby pelo rapaz não vir de “berço de ouro”. Para Waldo, só isso já justificaria o crime. Um golpe para ficar com o dinheiro de Laura. A publicitária, por outro lado, hora é a santa, hora, a devassa. Aos olhos de Waldo essas duas personalidades são reveladas como delírios de sua mente perturbada.


    Voltando à montagem, Otto Preminger opta por jogar o espectador de sopetão na trama. Somos introduzidos ao assassinato de Laura logo no início, sem nem mesmo sabermos de quem os personagens estão falando. Porém, se por um lado a história começa com esse impulso, seu desenvolvimento mostra o que se tornaria marca de Preminger. A linguagem do filme é de uma elegância extraordinária. Os movimentos de câmera, as passagens de cena. Tudo é ritmado, dando um tom primoroso à obra.


    Os méritos devem ser atribuidos também ao diretor de fotografia, Joseph LaShelle, vencedor do Oscar por seu trabalho neste filme. Além disso, o tema central composto por David Ruskin, ao mesmo tempo cria expectativas e imerge o espectador na trama.


    Produção conturbada


    Quem assiste um filme tão bem acabado como Laura, não imagina os problemas enfrentados pelo estúdio para a sua realização. Logo na escolha do elenco, quando Cliffton Webb fora anunciado, críticos destilaram seu veneno. Tudo porque o ator era homossexual assumido. Na época isso era considerado absurdo para os padrões Hollywoodianos. Diziam que Webb “desmunhecava” demais. Porém, sua interpretação se comprovou tão competente, com toda a ironia que o ator colocou no personagem, que se impôs a partir daí, sendo respeitado por suas habilidades de interpretação, que nada tinham a ver com sua opção sexual.


    Outro tormento foi a demissão do diretor original do longa. O filme começou a ser filmado por Rouben Mamoulian, porém quando o produtor Daryl Zanuck viu os primeiros copiões, tratou de dispensar o cineasta, colocando em seu lugar o austríaco Otto Preminger, que havia trabalhado numa das inúmeras versões do roteiro de Laura, uma adaptação do livro de Vera Caspary.


    Talvez todos esses problemas vieram apenas para fortificar o filme. O resultado final é um clássico do cinema, reverenciado mesmo depois de mais de 60 anos de idade. Laura é um filme dotado de interpretações incríveis, estilo elegante e tem a marca do gênero noir impressa em cada detalhe. Em cada sombra de sua fotografia e em cada parte de seu quebra-cabeças psicológico.


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