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Crítica: Lanterna Verde

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  • sexta-feira, 19 de agosto de 2011
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  • Alexandre Luiz
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  • Atenção: o texto a seguir contém alguns pequenos elementos da trama que podem ser considerados spoilers. Nada que estrague o filme pra quem ainda não viu, mas se você se importa com esse tipo de coisa, sugiro que vá assitir Lanterna Verde pra depois ler a crítica.

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    De uns tempos pra cá, a DC Comics passou a apostar suas fichas num personagem que, embora importante em seu universo, não tinha a popularidade de um Batman ou Superman. Deu certo e o Lanterna Verde conseguiu se tornar o centro das atenções literalmente, com duas importantes sagas da editora tendo o herói e sua mitologia como espinha dorsal. Era só uma questão de tempo pra que o Cavaleiro Esmeralda fizesse seu caminho o levar para outras mídias, como o cinema, por exemplo. Com estreia nessa sexta em todo Brasil, Lanterna Verde chega com muita expectativa mas, com perdão do trocadilho, sem o brilho esperado.

    Dirigido por Martin Campbell, o longa não é um desastre total, como o recente Dylan Dog, também adaptação de HQs. Porém, como vem da mesma casa de onde saiu Batman - O Cavaleiro das Trevas, era de se esperar algo acima da média. E isso, infelizmente, Laterna Verde não é. Como se propõe a ser uma história de origem, acaba caindo em uma narrativa formulaica que, embora tenha funcionado em exemplares recentes como Homem de Ferro e Capitão América, depende de um bom roteiro para mostrar ao espectador que aquele é um herói (e um filme) com algo mais a oferecer, além da batida dinâmica formada por protagonista irresponsável/mocinha em perigo/vilão descartável.

    A trama é básica: Hal Jordan (Ryan Reynolds) é um piloto de testes da Ferris Aeronáutica que, graças ao trauma causado pela morte do pai, cresceu sem muitas noções de responsabilidade. Um dia, após destruir um avião protótipo apenas para provar que em situações extremas a nave falharia (uma premissa interessante para mostrar a boa índole do personagem, mas que não é desenvolvida da forma correta), é “abduzido” pela energia verde do anel de Abin Sur (Temuera Morrison), Lanterna do setor do Universo onde se encontra a Terra. Sur explica a Jordan que ele foi escolhido por ser destemido e que agora deverá se tornar um membro da Tropa dos Lanternas Verdes.

    Da explicação de quem são esses protetores do Universo, passando pelo destino de Abin Sur, atacado por Parallax (Clancy Brown, o eterno Kurgan de Highlander, emprestando sua voz), o grande inimigo da Tropa e vilão principal do longa e até chegar à escolha de Hal para usar o anel, o longa funciona, apesar de algumas informações omitidas que atrapalham um pouco a compreensão de quem não conhece o material original. Um exemplo disso é o relacionamento do protagonista com seus irmãos, remanescente da atual origem do herói, revista pelo autor Geoff Johns nos quadrinhos, que da forma como é apresentado não cria simpatia do público pelo personagem, que seria fundamental para a aceitação, por parte de quem assiste, do anel ter escolhido alguém que não inspira confiança nem à seus familiares para desempenhar uma tarefa tão importante. Mas isso é possível relevar quando comparado ao que o filme se torna a partir de sua segunda metade.

    Após receber o anel, Jordan é levado até o planeta Oa, muito bem criado pela equipe de efeitos especiais, diga-se de passagem, para ser treinado pelos membros da Tropa, Kilowog (voz de Michael Clarke Duncan), Tomar-Re (dublado por Geoffrey Rush) e Sinestro (vivido de forma inspirada pelo ótimo Mark Strong, mas por um período muito breve). Este deveria ser o momento mais importante do filme. O treinamento teria a finalidade de mostrar o piloto crescendo como personagem. Um exemplo de como o recurso pode funcionar é o período em Batman Begins no qual Bruce Wayne viaja pelo mundo e aprende com a Liga das Sombras as técnicas de artes marciais necessárias para colocar seus planos em prática. Em Lanterna Verde a situação é resumida a algumas cenas envolvendo Kilowog e um discurso de Sinestro que faz Jordan “desistir”. Isso mesmo! Ele desiste e volta para Terra. O grande problema? Os Guardiões nem se preocupam em pedir o anel de volta. Sim, um de seus recrutas mais irresponsáveis volta a seu planeta de origem após desistir da função, e ninguém cogita o perigo que é deixar uma das armas mais poderosas do Universo, literalmente em suas mãos.

    Outro problema do roteiro é Hector Hammond (Peter Sarsgaard), o vilão secundário que passa a ser controlado por Parallax ao ser infectado quando fazia uma autópsia no cadáver de Abin Sur. O personagem simplesmente aparece do nada e em determinado momento Jordan e Carol Ferris (Blake Lively, o par romântico do protagonista) se dirigem à ele como velhos conhecidos e, pior, o texto tenta forçar um triângulo amoroso que além de desnecessário, surge de forma artificial como se houvesse a necessidade de acrescentar todo tipo de clichê de obras do gênero.

    Sem o correto desenvolvimento de personagens, Lanterna Verde passa a sofrer de outro mal quando caminha para seu clímax: a edição. É nítido que uma grande quantidade de cenas foram removidas, deixando várias situações incompletas. Além disso, a ação se torna apressada mesmo com o roteiro insistindo em incluir novos elementos que nada acrescentam à trama, como a criação do anel amarelo, por exemplo, existente apenas para dar um gancho a um futuro segundo filme, que graças à fraca bilheteria deste, talvez nem venha a existir.

    Mesmo problemático em sua resolução, no entanto, Lanterna Verde consegue divertir. Com efeitos especiais eficientes, principalmente quando envolvem os construtos do anel, com certeza deve agradar quem busca uma diversão sem grandes aspirações. Reynolds, criticado quando escolhido para viver o personagem, não desaponta e mostra o quanto a rejeição inicial a ele foi infundada. Lively não tem grandes momentos e Sarsgaard está caricato como o antagonista, chegando a alguns momentos de humor involuntário com seus exageros e maneirismos. A trilha, assinada por James Newton Howard é um de seus trabalhos menos inspirados e não ajuda a melhorar a conturbada narrativa. O diretor, Campbell, não é genial mas já mostrou que com bons roteiros consegue fazer bons filmes. 007 – Cassino Royale está aí pra provar. E se sai bem comandando as cenas de ação. Mas, o roteiro equivocado do quarteto Greg Berlanti, Michael Green, Marc Guggenheim e Michael Goldenberg acaba transformando o longa em uma produção abaixo da média.

    Com as adaptações de HQ lançadas este ano, que além do Capitão América ainda conta com X-Men – Primeira Classe e Thor, o gênero chegou a seu melhor momento. A audiência se tornou exigente e produções que poderiam ser melhor aceitas quando o mais recente filme de quadrinhos era Batman & Robin, hoje encontram resistência por sua natureza mediana. No “dia mais claro” para os heróis no cinema, Lanterna Verde pode até não indicar a chegada da “noite mais densa”, mas também não joga a luz necessária para abrilhantar ainda mais o momento. Uma pena.

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