
A película mostra um homem sem nome (ele deve ter um, mas nunca é mencionado pelo texto), interpretado por Ryan Gosling, que mantém uma vida dupla. De dia, é um dublê, enquanto à noite, é um motorista de fuga para criminosos. Ao desenvolver afeição por sua vizinha (Carey Mulligan), acaba sendo levado a ajudar o marido da garota, recém saído da prisão, num assalto que dá errado. Agora, além de tentar proteger Mulligan, ele precisa se livrar dos gângsters que passam a persegui-lo, vividos por Ron Pearlman e Albert Brooks.
A trama seria típica de alguns filmes B, mas graças à seriedade com que tanto o cineasta, quanto seu roteirista, Hossein Amini, e seus atores tratam a história, Drive oferece algo mais do que perseguições em alta velocidade e uma violência tão impiedosa quanto um tiro inesperado. Com personagens de arco bem definido e convincentes em suas ações, o longa traz mais momentos introspectivos e dramáticos do que agitados se tornando, assim, um drama de ação, e não o contrário.
Enquanto o texto demonstra sensibilidade, Refn esbanja estilo e junto de seu diretor de fotografia, Newton Thomas Sigel, compõe quadros belíssimos, com o uso muito criativo e eficiente da iluminação, que por mais artificial que possa parecer, é um dos elementos mais importantes da narrativa neste caso, ficando abaixo, talvez, apenas da trilha sonora retrô de Cliff Martinez e seu sintetizador, que parece ter saído direto de alguma produção de Michael Mann dos anos 80. Isso, aliás, leva a uma observação pertinente para a compreensão da obra de Refn. Drive evoca os trabalhos iniciais do diretor de Fogo Contra Fogo a todo instante, principalmente o realizado no filme Profissão Ladrão, de 1981. O protagonista introspectivo, suas regras para que não se comprometa em um "trabalho", a forma obsessiva e meticulosa com que executa sua função fora-da-lei, a já citada trilha sonora e até mesmo a estrutura do roteiro são apenas alguns dos elementos da película de Mann que Refn recicla e se apropria, moldando-os à sua própria forma.
O cineasta busca outras inspirações, assim como seu protagonista, Gosling. Impossível falar de um anti-herói sem nome sem fazer a ponte com o papel que Clint Eastwood interpretou na Trilogia do Dólar, do mestre do western spaghetti, Sergio Leone. O ator, por outro lado, é de uma safra diferente do eterno Dirty Harry. Gosling não hesita ao mostrar um sorriso para Mulligan (mesmo que discreto e um tanto triste). Por outro lado, assusta quando, lentamente, ao longo da projeção, despe-se de sua "máscara" taciturna para revelar sua natureza violenta e brutal, que culmina numa sequência perturbadora em um elevador, dirigida com maestria por Refn, com a escolha que faz de iniciá-la com uma demonstração de carinho para depois fazer o motorista explodir em fúria.
Outra característica louvável de Drive, também oriunda de tempos distantes, é exigir do espectador uma certa paciência para acompanhar a história. Embora não seja lento, o longa de Refn não tem pressa de chegar ao final e não abre mão de cenas intimistas que ajudam a tornar o filme um interessante estudo de personagens. Todos vivem na violência ali, mas enquanto alguns dariam tudo pra sair dela, outros não conseguem se libertar, mesmo que por escolha própria.
1 comentários:
Cara... jóia demais tua crítica! isto mesmo! nada a acrescentar!
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