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Crítica: Speed Racer

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  • sexta-feira, 16 de maio de 2008
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  • Alexandre Luiz
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  • Vou me permitir começar essa resenha em primeira pessoa. Quando assisti Transformers ano passado, perdi as esperanças em filmes-família e em adaptações de desenhos clássicos. Sério, cheguei a pensar que a única opção para uma diversão descompromissada e inteligente fossem as animações da Pixar. Pra minha felicidade, me enganei e os Irmãos Wachovski fizeram Speed Racer.


    Quem conhece a trilogia Matrix sabe que a idéia dos irmãos diretores sempre foi fazer um anime live-action. Foram bem sucedidos, de certa forma, já que a saga de Neo é toda contada, visualmente, inspirada nos desenhos japoneses. Mas faltava algo: uma maior estilização, que não poderia acontecer pois Matrix era um filme sério demais pra isso. Foi aí que caiu no colo dos dois a adaptação de Speed Racer, um dos primeiros animes a fazer sucesso no ocidente e que tinha uma linguagem caricata e inocente, como todo bom produto destinado à crianças. Era o sonho deles prestes a se tornar realidade. Mas Larry e Andy Wachovski não se contentaram em apenas fazer um filme com linguagem de desenho animado. Como Speed Racer é um filme sobre um garoto e seu carro, nada mais justo do que se render a atual moda do Tunning. Só que o que foi “tunado” é justamente o próprio filme. Desenho animado elevado a décima potência. É essa a sensação que se tem quando as primeiras imagens são projetadas na telona.


    Para deixar tudo com mais “cara” de anime, os Wachovski optaram por filmar em estúdio, com os atores na frente de uma parede verde, onde seriam adicionados cenários e efeitos na pós-produção. Não é o primeiro filme feito assim, mas pelo menos foi a primeira vez que o chroma-key (nome dado a essa técnica) foi utilizado com um propósito: o de ajudar a contar a história. É uma forma nova de se mostrar uma passagem de tempo ou uma simples mudança de cena. Aliada a isso está a fotografia, que graças a uma câmera de última geração, pôde dar aspectos de animação 2D a um filme com atores. As cenas em que tudo fica no primeiro plano podem ser a desilusão de muitos diretores, mas verdade seja dita, Speed Racer não seria o mesmo filme sem isso.


    Não seria também o mesmo filme se os atores não tivessem abraçado a “causa” dos irmãos-sopa-de-letrinhas. Emile Hirsch, John Goodman, Susan Sarandon, Christina Ricci (se quando ela era pequena, Wednesday Adams era seu papel definitivo, agora é Trixie que cabe como uma luva para a atriz) e principalmente Matthew Fox ficaram extremamente à vontade naquele universo surreal. Isso sem falar em Roger Allam como o vilão-empresário Royalton. Reparem na cena em que ele revela as suas reais intenções e sua verdadeira personalidade. Um grande trabalho de interpretação, sem dúvida. A trama de Speed Racer aliás, segue aquela mesma inocência dos episódios clássicos e coloca os personagens contra um inimigo da humanidade: a ganância. Sim, o filme dá lição de moral e passa uma mensagem, mas sem ser forçado. Ninguém duvida da inteligência do espectador aqui. Por isso mesmo, cenas que poderiam ser consideradas até mesmo violentas, passam despercebidas. Em outra coisa que a inteligência não é posta a prova é o senso de humor. Remando contra a maré, Speed Racer não usa de flatulências para fazer a garotada rir. A dupla formada por Paul Litt (Gorducho) e por um Chimpanzé consegue ser o alívio cômico sem apelar. Só isso já seria suficiente pra fazer o filme valer o ingresso. Infelizmente como nem tudo é perfeito, os diálogos não são lá muito inspirados. Mas isso também tem uma explicação, muito simples: as falas de um desenho animado não ficam boas na boca de um ator. Fato que se comprova aqui, mas não chega a atrapalhar.


    E, pra quem espera ver as corridas do trailer, uma notícia ótima. Se você acha que o que viu nas prévias é incrível, espere até ver no filme. Em determinados momentos é impossível não se sentir no banco de carona do Mach 5, ou ainda melhor, no meio da pista, entre os carros. O “carro-fú” como vem sendo chamado, só não agrada se você for muito chato ou algum crítico de cinema frustrado. É tudo muito rápido, mas ao contrário da outra adaptação de desenhos animados citada no começo da resenha, é possível identificar o que está acontecendo na tela. E os efeitos, multi-coloridos, são muito bons, graças a imaginação dos Wachovski. Aos olhos mais atentos, as pistas são um atrativo especial. Isso porque estão cheias de referências culturais que farão muita gente esperar pelo DVD, simplesmente pelo recurso da pausa. A edição também é de encher os olhos. Prova disso são os minutos iniciais que contam a história de Rex Racer, paralela a uma corrida de Speed. Um belo trabalho de edição fragmentada. Ainda na parte técnica, o filme tem a sorte de contar com Michael Giacchino como compositor. Quem conhece seu trabalho na série Lost e na trilha de Os Incríveis viu do que o músico é capaz. Há uma nítida influência em sua composição para Speed Racer, não só da música do próprio desenho, mas também de compositores com Lalo Schifrin (Missão Impossível), Ennio Morricone (Três Homens e uma Sentença) e até John Williams (Indiana Jones, Star Wars), nomes que fazem parte da história do cinema. Louvável a idéia da utilização do tema clássico de Speed de forma sutil até a metade do filme.


    Infelizmente, Speed Racer não está fazendo jus a sua qualidade nas bilheterias. Talvez porque os espectadores atuais estejam tão mal acostumados com produções sem cérebro, ou talvez porque a inocência dos anos 60, infelizmente não exista mais. Se isso for verdade, filmes verdadeiros e sinceros como esta produção dos Wachovski só dão mesmo lugar aos Michael Bays da vida com seus Transformers. Uma pena.

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