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Crítica: Jogo de Poder

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  • sexta-feira, 18 de março de 2011
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  • Alexandre Luiz
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  • Durou pouco a desculpa da Casa Branca pra iniciar uma guerra contra o Iraque, logo depois do ataque de 11 de setembro de 2001. O presidente Bush, com seu discurso de "guerra ao terror", veio a público dizer que uma luta era inevitável para a manutenção da paz. Os EUA começaram a sua batalha contra o país de Saddam Hussein com o pretexto de encontrar e neutralizar armas de destruição em massa. A desculpa durou até outras informações começaram a vazar. Fontes da CIA desmentiram qualquer indício de armas nucleares, que de acordo com Bush eram montadas no Iraque. E o governo fez de tudo para abafar e desqualificar qualquer tipo de vazamento por parte de sua agência de inteligência.

    O mais absurdo desses casos foi o que deu origem à trama de Jogo de Poder, filme de Doug Liman que chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira. Valerie Plame (Naomi Watts) era uma agente da CIA no comando de operações de contra proliferação de armas de destruição em massa. Sua tarefa era a de buscar informações a respeito destas prováveis armas, reunir os fatos e através deles, concluir quais eram verdadeiros ou não. Em uma investigação do tipo, começam a surgir indícios da compra de tubos de alumínio para o refinamento de urânio por parte do governo iraquiano. Como o urânio tinha como provável origem o país africano de Níger, Plame indica seu marido, Joseph Wilson (Sean Penn), diplomata que já havia atuado naquele país para ajudar na investigação. Wilson concorda e também conclui que não há nada que indique a produção de armas nucleares. Algum tempo depois, Bush inicia a invasão ao Iraque, seguindo exatamente o pretexto envolvendo o urânio africano.

    Logo no início do longa, Liman coloca o personagem de Penn em situações que confirmam um forte engajamento político do diplomata, assim como grande convicção de seus ideais. Pois é justamente isso que leva Wilson a escrever um artigo para o New York Times com a sua versão dos fatos, causando um grande incômodo para o governo norte-americano. Em uma atitude maquiavélica, a Casa Branca vaza para a imprensa a ocupação de Valerie na CIA, na tentativa de desviar a atenção do público para a vida pessoal do casal.

    Responsável por levar Jason Bourne para o cinema, Liman não perde o ritmo ágil de sua câmera nos primeiros 40 minutos do longa. A partir daí, sem quebrar a tensão e sem parecer arrastado, o roteiro passa a analisar mais o lado humano dos personagens e como toda essa reviravolta poderia afetar suas vidas. De thriller político, Jogo de Poder passa para o drama e para o confronto de ideias. Wilson começa uma guerra inconsequente contra a Casa Branca, arriscando sua carreira e levando uma parcela da população a considerá-lo traidor de sua pátria. Plame, agente da CIA há 18 anos não consegue ter a mesma convicção do marido e por um senso de patriotismo distorcido, mantém-se calada a respeito de tudo. Até perceber o ponto onde tudo estava indo longe demais. E é justamente aí que a película encontra sua força, nas relações entre os personagens e nas interpretações de Penn e Watts.

    É importante ressaltar que o filme é bem claro em suas mensagens. Não é anti-americano e nem propaganda esquerdista. O fato é que a história em si depõe contra as ações da Casa Branca. Não precisa ser panfletário para causar asco ao mostrar um membro do governo cogitando vazar uma informação que poderia levar até mesmo à morte de uma agente que jurou defender seu país e assim o fez por quase duas décadas. Claro que a extrema-direita americana não recebeu muito bem a produção e tentou desmerecê-la por "exageros" por sua equipe criativa. Ora, não se pode esquecer que se trata de um produto de entretenimento e liberdades são tomadas para efeitos dramáticos. O pano de fundo, porém, muito bem representado por imagens da CNN e outras emissoras de notícias é totalmente verídico.

    Por seu segundo ato humanizado, o discurso mais engajado, feito rumo ao desfecho do longa, não parece forçado e entra naturalmente na cabeça do espectador, seja ele tão politizado quanto o personagem de Sean Penn ou não. O controle de informações para desviar a atenção do público não prejudica o poder, ou aqueles envolvidos na história. Prejudica o povo, que aos poucos, conforme o tempo passa, pode começar a se sentir traído por aqueles que foram escolhidos para representá-los. No fim, a mensagem se aplica a qualquer país que queira honrar sua democracia e que não busca ser lembrado por guerras forjadas na mentira e na paranóia de sua população.

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