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Crítica: Tudo Pelo Poder

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  • segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
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  • Alexandre Luiz
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  • Há 15 anos ninguém dava muito crédito à George Clooney. Saído de um seriado de TV de sucesso, Plantão Médico, o ator se esforçava mas graças a algumas escolhas erradas (Batman & Robin, por exemplo), precisou de algum tempo pra chegar onde está hoje. O Clooney atual não é apenas um ator de respeito, mas vem alcançando bons resultados também atrás das câmeras e em Tudo Pelo Poder não é diferente. Sua direção firme faz do filme uma grata surpresa, já que sua trama não parece ter muito mais a oferecer do que uma visão cínica e pessimista do processo eleitoral norte-americano (ou de qualquer outro país).

    Além de atuar como cineasta, o ator também interpreta o governador Mike Morris, que disputa as primárias no partido Democrata para conseguir ser o candidato a presidência dos EUA. No comando de sua campanha estão os assessores Paul Zara (Philip Seymour Hoffman) e Stephen Meyers (Ryan Gosling). Este último, o real protagonista do longa, começa sendo mostrado como o possuidor de uma mente astuta e sempre atenta à todas as possibilidades que poderão ajudar Morris em sua disputa. Há também outra qualidade destacada desde o início. Meyers parece realmente acreditar no discurso de seu candidato e não está disposto a jogar sujo para conseguir vencer. Porém, graças a alguns tropeços, o personagem de Gosling começa a entrar, inadvertidamente no início, mas de livre e espontânea vontade conforme a história avança, neste jogo que, tanto o texto original (o livro Farragut North, de Beau Willimon) quanto no roteiro que Clooney ajudou a conceber, parece ser impossível de ser vencido pela honestidade.

    Parece que Clooney, assim como boa parte dos eleitores americanos, está tão descontente com o mandato de Barack Obama, que decidiu descontar sua fúria (já que foi um dos entusiastas do atual presidente norte-americano) com uma história que mais atrapalha do que ajuda o processo político. O filme é bom, tem ótimas interpretações, mas a mensagem que oferece ao espectador é tão pessimista que muitos saírão do cinema com a impressão de que nada vai mudar e de que, de um jeito ou de outro, todos são desonestos, sujos e mesquinhos. Em tempos de desinteresse pela política, Tudo Pelo Poder corrobora ainda mais com o pensamento do cidadão comum que não vê mais perspectivas de mudanças. E isso não se aplica apenas aos eleitores norte-americanos, mas a praticamente a todos que de quatro em quatro anos exercem seu direito ao voto.

    Alianças indesejáveis, acordos com a imprensa, nada disso é novidade. Mesmo para as massas que teimam em dizer que não ligam para política. Mas chega a ter uma aura prejudicial quando uma obra de ficção usa uma colagem de praticamente tudo de ruim que já ocorreu com governantes nos últimos anos (incluindo até assédio sexual com estagiária) para expor uma espécie de espelho do cenário político, numa posição que geralmente se aplicaria à paródias, e não a dramas.

    Como dito acima, Tudo Pelo Poder não é um filme ruim. A direção de Clooney não o deixa ser. Além de uma inteligente direção de fotografia, que faz referências à mestres como Gordon Willis e Conrad Hall, famosos pelo uso de sombras e recursos pouco comuns de iluminação. E graças às interpretações competentes de Gosling, e dos coadjuvantes Paul Giamatti e Evan Rachel Wood. Mas incomoda a trama não oferecer uma solução e se comportar mais como aqueles comentaristas e colunistas de política, nunca satisfeitos com nada e apontando apenas os defeitos, vilanizando a tudo e a todos.

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