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Crítica: Sweeney Todd

Não é que Johnny Depp seja um ator esquisito a ponto de se encaixar tão bem nos personagens de Tim Burton. O segredo é que Depp é simplesmente um excelente ator. Com toda sua versatilidade, ele sabe exatamente o que o diretor e amigo quer. Burton gosta de personagens trágicos, sombrios e freaks. O ator então adapta o arquétipo a sua interpretação e brinda os espectadores sempre com uma atuação perfeita. Em Sweeney Todd, sua mais recente parceria com o diretor de Edward Mãos de Tesoura, não é diferente.

Pra início de conversa, o filme é um musical. Provavelmente, caro internauta, você torceu o nariz. O público brasileiro não é muito acostumado a esse gênero, o que rende comentarios interessantes no cinema como: “coisa chata, esse filme... só tem música!”. Mas, embora muito se tenha reclamado, a adaptação da peça de Stephen Sondheim não chega a ser enfadonha como se imagina. Talvez, exatamente pela direção de Burton e pela interpretação de Depp, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, entre outros, Sweeney Todd seja essa boa surpresa.

A história mostra o barbeiro Benjamim Barker (Depp), retornando a Londres após ser injustamente condenado a prisão pelo Juiz Turpin (Rickman). A condenação veio porque o magistrado se apaixona pela esposa do barbeiro. A moça é levada à desgraça e sua filha é adotada por Turpin. Para se vingar, Barker adota o nome de Sweeney Todd e monta sua barbearia em seu antigo endereço, onde tambem funciona uma loja de tortas comandada pela Srta. Lovett (Bonhan Carter). Todd então resolve matar seus algozes e se une a quituteira que usa a carne das vítimas em suas tortas.

Uma trama assim tão macabra só poderia mesmo atrair a atenção de Tim Burton, que consegue colocar na tela todo o humor negro do texto, e ainda cria um suspense de primeira nas cenas em que o barbeiro entra em ação. A caracterização de Depp por si só já é assustadora. Com afiadas navalhas nas mãos então, nem se fala. Outro destaque do elenco é Sacha Baron Cohen. O eterno Borat, encarna a primeira vítima de Todd, o barbeiro charlatão Pirelli. Sua interpretação “over the top”, típica de humoristas de seu naipe, rouba as cenas, principalmente quando resolve cantar. Por incrível que pareça, sua caracterização é que menos se encaixa no mundo de Burton. Mas que traz um toque singular à produção.

No que se diz respeito às músicas, apesar de não serem tão famosas quanto alguma obra de Andrew Lloyd Weber, tiveram um arranjo tão “Burtoniano”, ou seria “Elfmaniano” (embora Danny Elfman não tenha participado da trilha, sua influência por trabalhos anteriores com Tim é escancarada) que pareciam ter sido concebidas para um filme do diretor e não para uma peça de teatro. E Johnny Depp, sabe cantar, quem diria. Claro, com Pro Tools até o mais desafinado aspirante a cantor consegue alcançar algumas notas, mas, isso não vem ao caso. O que importa é que além de interpretar bem, o astro convence quando solta sua voz.

Além de tudo, a fotografia ajuda no clima sombrio. Embora nada criativa, pois lembra em muito A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (outro resultado da parceria Burton/Depp). Mas é esse visual que o diretor gosta, então, com Sweeney Todd, ele está mais do que confortável. E que não reclamem da quantidade absurda de sangue. A proposta é esta mesmo. O exagero visual dos grandes musicais é transposto aqui para a violência. Não é para chocar nem deixar ninguém enojado. Muito pelo contrário.

Entre tantas tentativas de se trazer o musical de volta as telas de cinema, são poucas que realmente valem a pena. Moulin Rouge, pela sua ousada proposta é um exemplo de como atrair as novas audiências pra esse tipo de produção. Sweeney Todd não traz nada novo, mas pelo menos não cai na armadilha de reciclar elementos clássicos. Com a mão certeira de Burton, o resultado é um filme quase autoral. O diretor encontra mais uma vez uma história que se encaixa em sua visão muito particular de mundo. Sempre escancarando nossos defeitos mais sombrios e estranhos.

Continua...
 
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