Som: Herbie Hancock - The Imagine Project
Trilhas Marcantes - Predador (1987)
Como essa semana tivemos a estréia de Predadores, filme que promete trazer esse monstro tão famoso de volta aos trilhos, vamos recordar do tema criado por Alan Silvestri para o filme original de 1987, com Arnold Governator.
P.S.: Queria marcar meu retorno à resenhas do blog com a crítica desse novo filme. Não consegui assisti-lo no final de semana, mas até sexta pretendo colocar o texto por aqui.
Agora você vê, e agora... não vê mais!
As palavras que antecedem um truque de mágica podem ser invertidas no contexto cinematográfico por um bom diretor. O cineasta competente diz ao espectador exatamente o oposto: “Agora você não vê, e agora... você vê”. Gênios como Alfred Hitchcock, Stanley Kubrick, Steven Spielberg, Quentin Tarantino, entre outros, conseguem transformar o nada em imagem, ou seja, em tudo. A magia da sétima arte acontece ao contrário.
Ter o olhar para o cinema, encontrar o enquadramento perfeito, pensar a cena como parte da experiência e criar uma obra-prima não é pra qualquer um. Tome como exemplo Hitchcock, que ao conceber, juntamente com seu roteirista e seu diretor de fotografia, a clássica cena de Psicose em que a personagem de Janet Leigh é morta no banho, criou um dos momentos mais memoráveis da história do cinema. Ou ainda Kubrick, na sequência de abertura de 2001 –Odisséia no Espaço, sem um diálogo sequer, explicar a importância de uma das caraterísticas mais marcantes do ser humano: a capacidade para a evolução através da inteligência.
Mas, você deve se perguntar, é mérito apenas do diretor? Estes gênios que a história construiu não estavam sozinhos. E toda a equipe? Não leva créditos? Claro que leva. Hitchcock é famoso por trabalhar com os melhores em seus ramos. Porém, sem um maestro, a orquestra se perde e no cinema acontece o mesmo. Um bom exemplo está no recente blockbuster Transformers – A Vingança dos Derrotados. Temos uma equipe de efeitos especiais competente, roteiristas excelentes (do recente Star Trek), mas um diretor medíocre. O resultado? Um filme de verão em que as maluquices de Michael Bay prevalecem e fazem do que poderia ser uma diversão de alto nível, um mero exagero. Se os grandes diretores são mágicos, Michael Bay é o Mr. M. Um ilusionista meia-boca que nunca conseguiu grandes truques e precisa usar da polêmica pra causar alguma reação, mesmo que seja de raiva.
Mas nem tudo está perdido. A sétima arte ainda cultiva bons mágicos que podem, daqui alguns anos, estar em um lista de gênios. Tarantino é um deles. Este é um showman dos mais espertos. Sabe aquele cara que antes do truque (que pode ser do mais simples) desvia a atenção da platéia dizendo um pouco sobre sua história, falando o quanto sua infância foi marcada por personagens incríveis que ele aprendeu a admirar durante os anos e tudo mais? Pois é, quem não fica impressionado com os diálogos que o diretor de Pulp Fiction escreve? Ele consegue segurar uma cena de 20 minutos apenas com a conversa entre dois personagens e ainda assim criar supense sem sair do ritmo. Prova disso é a abertura de Bastardos Inglórios. Aquilo é cinema. Aquilo é magia.
Por isso, se você tem pretensão a cineasta ou a produtor de conteúdo em geral, não se esqueça, se o truque é grandioso ou uma mera tirada de coelho da cartola, sempre tenha uma carta na manga pra fazer seu público aplaudir e saber que presenciou a atuação de grande mágico às avessas: aquele que, ao invés de fazer desaparecer, consegue fazer aparecer uma grande obra.
Blame it on Ben-Hur
Era um evento. Que criança não espera isso dos pais, ficar acordado de madrugada vendo TV. Bom, eu sei, os tempos são outros e a garotada tem outras coisas na cabeça hoje em dia. O que é até muito triste. Havia uma certa inocência nisso tudo e a falta desse tipo de coisa não é bem-vinda na sociedade atual. De qualquer forma, fui dormir mais cedo pra poder aproveitar a sessão sem sono. Afinal, que graça tem assistir um filme e não prestar atenção.
Não sei o que me marcou tanto ali. Deve ter sido realmente pela experiência, mas “Ben-Hur” foi o primeiro filme que assisti realmente consciente do que estava assistindo. Na minha cabeça eu dava os primeiros passos pro que, na de alguém mais velho, poderia se tornar uma resenha. Fiquei fascinado pelos cenários, pela história, pelas interpretações e, lógico, pela corrida de bigas. O impacto foi tão grande que eu me lembro claramente da sequência. E não foi por causa de reprises. Por algum motivo eu nunca mais assisti esse filme e hoje estou com 25 anos. Ele está aqui na minha estante, numa edição especial em DVD. Mas não o revi. Gosto dele na minha mente, do jeito que está. Pretendo revê-lo sim, agora com um senso crítico mais formado. Mas não fará diferença. Eu sei que irei continuar a gostar dessa obra-prima da sétima arte de uma forma muito particular.
“Ben-Hur” não é meu filme preferido. Este é outro, de uma geração diferente, cujo texto vocês podem ler aqui. Mas, devido ao efeito que teve sobre mim, é um dos filmes que está entre os mais importantes pra minha formação como estudioso de comunicação. Lá no fundo, “Ben-Hur” tem sua parcela de “culpa” por eu ter escolhido jornalismo e publicidade como profissão. Ora, vocês estão lendo este texto por causa dele.
A partir de “Ben-Hur”, devorei o cinema. Clássicos, entretenimento vazio, filmes cult. O que aparecia na frente, eu assistia. Adquiri gosto por filmes. Mas acima de tudo, adquiri gosto por boas histórias, produções impecáveis. Até começar a perceber minha apreciação por truques de câmera, enquadramentos, direção. A sétima arte me fascinava. E, graças a este clássico, continua me fascinando.
Parando pra pensar, talvez a “culpa” não seja de “Ben-Hur”. Seja do meu pai. Ele provavelmente não imaginava que seu gesto seria tão importante pra minha formação quanto qualquer conselho, repreensão ou uma dessas coisas que os pais fazem. Ele me ensinou a admirar arte. E isso, por si só, já vale por toda uma boa educação.
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Um pouco mais sobre Ben-Hur (http://en.wikipedia.org/wiki/Ben-Hur_(1959_film))