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Crítica: Salt

Quando Identidade Bourne foi lançado nos cinemas, talvez nem o diretor Doug Liman ou a crítica especializada poderiam imaginar que aquela proposta de ação mais realista (embora envolvendo algumas cenas um tanto exageradas) pudesse, anos mais tarde, influenciar até mesmo a nova safra de filmes de 007. O cinema de ação, os thrillers de espionagem e até produções de ficção científica se renderam as cenas com cortes rápidos, câmera na mão, e todos os elementos que fizeram da série Bourne o sucesso de público que conhecemos.

Pois bem, não é de se estranhar que Salt, lançado no começo de agosto nos cinemas, também siga essas “regras”. O filme mostra Angelina Jolie no papel título, uma agente norte-americana que de repente é acusada de ser uma espiã russa, parte de um programa da KGB de implantar pessoas altamente treinadas no ocidente para missões especiais de infiltração. Daí é perseguição, tiroteio, muita luta corpo-a-corpo e todos os clichês possíveis inerentes a esse tipo de filme. Isso não seria problema se Salt seguisse a cartilha de Bourne à risca ao invés de tentar desafiar as leis da lógica.

As cenas de ação são tão absurdas que deixariam James Bond, Ethan Hunt, John McClane, Rambo e o próprio Jason Bourne corados de vergonha. Se convencer o publico que Matt Damon pudesse ser um herói de ação foi complicado, imagine colocar Angelina Jolie pulando de caminhão em caminhão em uma auto-estrada, ou escorregando uns 15 metros por um poço de elevador usando as mãos sem sair com unico arranhão. A mulher dá golpes que desafiam a gravidade, derruba seguranças com o dobro de seu tamanho e faz um sem-número de piruetas que podem até funcionar quando Jolie interpreta Lara Croft, mas são forçadas demais em um thriller de espionagem, geralmente um gênero que funciona pelo realismo.

É até surpreendente imaginar que o diretor dessa bomba é Philip Noyce, que nos anos 90 dirigiu dois dos melhores filmes de espiões daquela década: Jogos Patrióticos e Perigo Real e Imediato. Claro que nesse caso estamos falando de duas adaptações de Tom Clancy, mas nem isso é desculpa pra inocentá-lo por filmar um roteiro como de Salt, que aos trancos e barrancos conta uma história pra lá de batida. Tanto é que Tom Cruise rejeitou o papel (sim, no primeiro roteiro Salt era um homem), por achar parecido demais com o que ele ja havia feito em Missão Impossível. Nem o que deveria ser o ponto de virada surpreende de tão previsível.

Mas, o que deixa qualquer espectador com vontade de pedir o dinheiro do ingresso de volta é a pretensão da película em querer deixar gancho pra uma continuação. E é aqui o maior pecado de Salt. Doug Liman não imaginava o sucesso de Bourne e criou um filme redondo, com começo, meio e fim que poderia ou não ter uma sequência. Em sua vontade de ser mais, Salt é incompleto: faltou roteiro, faltou direção, faltou bom senso e quando os créditos começam a subir, a sensação é que também faltou um filme ali.

Continua...
 
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