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Séries: Que venha o inverno na Távola Redonda

Em abril, a TV paga norte-americana começou a exibir duas séries do famoso gênero "Sword and Sorcery", que nos anos 80 rendeu filmes interessantes como Conan, Excalibur, A Lenda, entre outros. Mas, ao contrário de suas contrapartes cinematográficas, as produções televisivas estão com um público muito mais delineado e buscam, de forma corajosa, agradar aos adultos, ao invés de jovens.

Como chamar atenção de espectadores mais maduros com a premissa de mostrar feitiçaria, reis e aventura? Simples. Adicionando à trama elementos mais comuns a séries históricas como intrigas, traição, sexo e violência. E também subtraindo da equação a inocência e a ingenuidade que geralmente marcam produções do estilo.

A primeira estreia do mês foi Camelot, uma nova versão da clássica lenda do Rei Arthur. Exibida lá fora pelo canal Starz, a série não busca desmistificar a história, como o filme com Clive Owen. Já nas primeiras cenas o espectador é apresentado à Morgana (Eva Green), meio-irmã do futuro Rei da Távola Redonda, exibindo seus poderes num plano para tomar o trono. Depois, a trama apresenta Merlin (Joseph Fiennes), que sai a procura de Arthur para apresentar a este seu destino.

Tentando capitalizar em cima de seus dois sucessos épicos do ano passado (Spartacus e Pillars of the Earth), a Starz não tem medo de ousar com cenas mais picantes ou violentas. Apresenta ainda uma bela fotografia e cenários que, se não são grandiosos como a história exige, não chegam a comprometer, representando bem a decadência do reino e da época.

Os pontos fortes do programa ficam por conta dos dois coadjuvantes já citados. Green e Fiennes adicionam peso e presença à cada cena. A atriz se mostra uma escolha acertada para o papel de Morgana, com suas conspirações e intrigas. Provavelmente ninguém faz cara de desdém melhor que Eva Green. Já Fiennes, que não tem o talento do irmão, pelo menos não faz feio como guia de Arthur e do espectador, contando aos poucos a história do jovem futuro rei.

O que incomoda um pouco é justamente quem deveria ser o astro da série. O ator Jamie Campbell Bower não passa muita segurança no papel. Por mais que o personagem ainda não seja o monarca heroico das lendas, falta uma presença maior do ator. Talvez isso seja corrigido nos próximos episódios. É esperar pra ver. O elenco de apoio até agora também não demonstrou a que veio e não se destaca.

No mais, Camelot se mostra interessante pelo seu roteiro, que apesar de não se basear em nenhuma obra específica, procura se manter fiel à uma história que todos conhecem, ao mesmo tempo que também adiciona elementos novos e outros não tão famosos de outras adaptações.

A grande expectativa de abril, porém, é Game of Thrones, adaptação da HBO para a saga literária criada por George R.R. Martin, constantemente comparado a Tolkien e seu O Senhor dos Anéis. A diferença aqui, é que embora haja inspiração no autor da saga de Frodo e Cia., a história não se deixa levar apenas por alguma busca aventuresca e se foca mais nas intrigas pelo poder dos protagonistas. Ninguém é totalmente bom e os vilões podem surgir por parte de qualquer personagem, já que os motivos pessoais de cada um é que movem suas ações e não simplesmente vilania sem sentido.

Com produção milionária, a série da HBO demonstra seu custo no cuidado com a produção. Direção de arte e fotografia impecáveis, cenários riquíssimos de detalhes e figurino de igual competência fazem Game of Thrones bater de frente com qualquer grande produção pra cinema. A edição de som também é feita com todo cuidado, e o destaque no primeiro episódio fica com a cena pré-créditos, o ataque dos Outros aos Guardiões da Noite.

O elenco conta com Sean Bean (o Boromir da adaptação de O Senhor dos Anéis), que transmite credibilidade ao personagem Eddard Stark, líder de sua família e amigo do Rei Robert Baratheon, vivido pelo competente Mark Addy. Ao contrário de Camelot, Game of Thrones também traz surpresas no elenco de apoio, que parece estar mais a vontade com seus personagens. A maioria tem uma boa presença de tela e não decepciona quando precisa contracenar com algum ator melhor.

Game of Thrones também não se intimida ao colocar na tela uma trama complexa, cheia de personagens, cada um com sua importância, e muito menos ao exibir cenas mais fortes. Afinal é uma série da HBO. O ritmo do piloto, contudo, parece um pouco acelerado. Talvez um episódio de duração um pouco maior pra começar o seriado teria resolvido, dando mais tempo a história para se apresentar. Fora isso, o texto agrada e mesmo precisando mostrar muita coisa em pouco tempo, não fica a sensação de que os roteiristas tentam enfiar uma ou outra trama goela abaixo de quem assiste.

Com boa aceitação por parte da crítica, Game of Thrones acaba de ser renovada para uma segunda temporada, garantindo aos fãs dos livros de Martin, a continuidade da saga que terminará com a publicação do sétimo volume, ainda sem data para sair.

Os próximos episódios de ambas as séries devem trazer mais movimento às histórias, principalmente Camelot que teve uma estreia meio morna, pelo menos em relação à ...Thrones.

Fica a dica pra quem gosta de fantasia medieval acompanhar as duas produções, que embora possam trazer a nostalgia de um estilo pouco explorado recentemente (pelo menos de forma satisfatória, com a Saga do Anel como único grande representante), surgem na TV de acordo com tendências mais atuais de desenvolvimento de personagens e buscando agradar por complexidade de temas ao invés de efeitos ou grandes batalhas.

Continua...

Trilhas Marcantes: Forrest Gump (1994)

Dirigido por Robert Zemeckis, Forrest Gump foi mais um filme pra mostrar o talento de Tom Hanks e pra contar uma bela história sobre histórias. A sensibilidade do roteiro, as passagens da vida do personagem-título e todo o drama do longa não teriam força, porém, sem dois fatores: a direção de Zemeckis e a trilha de Alan Silvestri. O diretor de De Volta Para o Futuro entregou um de seus trabalhos mais completos, um verdadeiro clássico que emocionará até as futuras gerações. E Silvestri, parceiro habitual do cineasta criou um belíssimo tema, emotivo quando precisa e épico quando a trama pede grandiosidade.

Impossível não reconhecer, principalmente por ter sido usado recentemente em um comercial brasileiro. Confira abaixo.


Some a isso a trilha com músicas de várias épocas e Forrest Gump se torna não apenas um filme sobre histórias, mas uma ode à contribuição norte-americana para a cultura ocidental.
Continua...
 
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