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X Japan no Brasil [coletiva + show]

Quantas bandas você conhece que carregam o seu país de origem no nome? Bom, eu conheço ao menos uma: o X Japan, que, preferências de estilos à parte, sem dúvida é a banda de rock mais representativa da história da música japonesa. Responsável por levar o rock pesado pela primeira vez ao topo das paradas japonesas, a banda liderada pelo baterista e pianista Yoshiki Hayashi foi a precursora do movimento – hoje um tanto desgastado – visual kei, que mistura visuais andróginos e radicais, inspirados no teatro kabuki e no glam rock ocidental, a uma veia musical bem trabalhada e de espírito agitado.

A banda, cujo primeiro single data de 1985, teve seu fim em 1997, com a saída do vocalista Toshi, e o memorável show The Last Live – último registro da banda com o icônico e extravagante guitarrista hide, falecido no ano seguinte. Desde então, cada integrante seguiu carreira solo ou formou outros projetos musicais, para, 10 anos depois, anunciarem seu surpreendente retorno com a música I.V. – tema do filme Jogos Mortais IV. Porém, mais surpreendente ainda seria imaginar que um dia essa banda, sem divulgação oficial nenhuma no país, viria a lotar uma casa de shows com quatro mil pessoas no Brasil, para realizar um de seus shows mais memoráveis. E foi o que aconteceu no dia 11 de setembro de 2011, último domingo, no HSBC Brasil, em São Paulo.



Na noite anterior, Yoshiki concedeu a primeira das duas coletivas de imprensa em sua visita ao país, no hotel em que a banda estava hospedada (a segunda coletiva ocorreu após o show, no próprio HSBC). O Re-Enter teve a oportunidade de comparecer a este evento, que contou com a presença de cerca de 30 jornalistas, onde alguns tiveram a oportunidade de fazer uma pergunta ao músico, responsável pela maioria das composições da banda. Confira um resumo dos principais pontos da entrevista a seguir (nossa pergunta você confere destacada em azul).


- Como você encara o rótulo do visual kei e o estilo do X Japan?


Quando iniciamos a banda, não pertencíamos a nenhum movimento, porque tocávamos música realmente pesada e usávamos um visual bem maluco. Acabamos criando um gênero no Japão, que se tornou o visual kei. Mas o visual kei não é algo sobre o estilo, mas sim sobre a liberdade. É nisso que eu acredito.


- Tanto tempo após a separação da banda, você encontrou alguma dificuldade de entrosamento com os outros integrantes depois do retorno?


Sim. Depois que resolvemos voltar com a banda, tivemos que consertar nossa amizade primeiro. Agir mais como uma família. Não é simplesmente se reunir e tocar, é passar nosso tempo juntos.


- Como foi o processo de compor novas músicas com a ausência de hide?


Compor com o hide era somente parte do tempo que passávamos juntos. Como eu disse antes, uma banda é como uma família, então passávamos muito tempo juntos nos hotéis e a bordo de trens, aviões e carros. Todo esse tempo que divididimos foi muito valioso... A maior parte do tempo que passávamos juntos não era tocando, mas sim nos divertindo. Ele escreveu algumas músicas para a banda, mas contribuía mais na parte de arranjos. Algumas vezes quando escrevo nossas músicas, eu penso em como hide faria o arranjo. Mesmo Taiji [primeiro baixista da banda, falecido há poucos meses], que perdemos recentemente... Sentimos que eles ainda estão conosco em espírito, e adotamos uma atitude positiva com relação a isso.


Coletiva de Yoshiki Hayashi, líder do X Japan, em São Paulo


- Com Sugizo [guitarrista e violinista da “banda-irmã” Luna Sea e velho amigo de hide, substituindo-o no X Japan desde 2009] agora na banda, como você está utilizando-o na composição musical?


Ele é um velho amigo nosso, conheço ele há 20 anos, então foi natural que ele viesse a integrar a banda em algum momento. Ele escreveu uma música para nosso novo álbum, e estamos analisando se vamos incluí-la ou não. Também gostamos de tocar versões acústicas em duetos de piano e violino das músicas do X Japan, o que temos feito nos shows.


- A música Art of Life se diferencia do restante do repertório do X por ter uma duração maior, de meia-hora. Quando você sentiu que estava no ponto de compor uma música dessa grandiosidade, e de onde veio a inspiração?


Bem, essa música tem 30 minutos de duração, então é diferente não só das músicas do X Japan, mas da maioria das músicas de rock, eu acho. Quer dizer... Quem toca uma música de 30 minutos na rádio hoje em dia? Quando pensei em escrever essa música, eu me perguntava por que uma música tinha que ter somente três, quatro ou cinco minutos. A música deveria ter mais liberdade. Então fui até a gravadora e perguntei se eles poderiam tentar tocar na rádio caso eu escrevesse uma música de 30 minutos. Eles disseram: “Mas é claro”. Duas semanas depois - o tempo que levei para escrever a música - apareci com ela pronta e eles enlouqueceram.


A inspiração para Art of Life... Bem, parte das letras do X Japan não são ficção, são baseadas na minha própria experiência. Eu simplesmente coloco toda minha emoção, coloco minha dor, felicidade e tudo mais nas letras. Art of Life é sobre uma parte difícil da minha vida, sobre como eu a superei. Eu estava muito... Eu não sei bem como dizer... Eu estava muito suicida após a morte do meu pai. Eu não queria viver. Se não fosse pela música, eu não estaria aqui. Ao invés de simplesmente ficar louco, eu comecei a escrever músicas. Então, provavelmente essa música, e isso é algo meio estranho para eu dizer, salvou a minha vida.


Vídeo: Cortesia www.asian-box.net


- Qual a sua opinião sobre a evolução da aceitação da música japonesa ao redor do mundo, desde a criação da banda até hoje?


Há 15 anos, demos uma entrevista coletiva em Nova York, para falar da assinatura de contrato com uma gravadora na época, e um repórter me perguntou: “O que você está fazendo aqui? Você nem mesmo fala inglês” – e eu realmente nem falava (risos). Mas eu penso que a música não tem barreiras. Depois de todos esses anos, estamos fazendo uma turnê mundial. A música está se difundindo bastante através da Internet. Eu penso que a música japonesa é muito única, porque nós temos influências do ocidente e do oriente, e acho que já estava na hora da música não vir somente do ocidente. Alguns músicos japoneses já são bastante populares mundo afora. Acho isso maravilhoso.


- Você acha que a banda tem muitos fãs no Brasil?


Sim, principalmente devido ao retorno que tenho via Twitter. A reação dos brasileiros sempre que posto alguma coisa é a maior do mundo. Por isso, eu queria muito tocar logo no Brasil.


- O que você espera do show de amanhã?


Algo que nunca experimentamos. Algo memorável e histórico.


Após a entrevista, representantes do X Japan Brazilian Street Team entregaram presentes a Yoshiki


O SHOW

Se uma banda japonesa ainda precisava comprovar a afirmação de que “música não tem barreiras” dita por Yoshiki na coletiva, o X Japan cumpriu essa missão no HSBC Brasil. Já pela manhã, fãs de todos os estilos e idades ocupavam a fila, preenchendo as ruas ao redor da casa de show com cabelos coloridos e maquiagens extravagantes, ao lado de senhoras de mais idade que também se diziam fãs da banda, acompanhadas de seus filhos. Velhos amigos que se conheciam somente pela Internet devido ao gosto em comum pela banda puderam se ver pessoalmente, e novas amizades nasceram em meio à multidão.


Esse clima de ansiedade e agitação deixava todos animados, o que serviu de combustível para aguentar as longas duas horas e meia de atraso para início do show. O número de vezes que pessoas entravam no palco para regular e polir os instrumentos ou lustrar o chão já chegava a irritar, quando começou a soar pela casa a introdução do show, com os integrantes surgindo no palco, para logo em seguida iniciarem Jade, atual música de trabalho, que empolgou a todos, mesmos os que ainda não a conheciam. A abertura teve direito até mesmo a uma pausa súbita da banda em um dos últimos refrões, cantado a plenos pulmões pelo público.




Na sequência, o X engatou dois clássicos, Rusty Nail e Silent Jealousy, que só não explodiram o lugar por falta de pólvora. Nessas músicas, o novo integrante Sugizo provou a que veio, executando com perfeição os complicados solos criados por hide – o que acabou com o receio de alguns fãs que temiam por playbacks de solos de guitarra do falecido guitarrista, algo que vinha sendo feito como uma espécie de homenagem pela banda após seu retorno aos palcos. A homenagem a hide, no entanto, veio logo na sequência, com Yoshiki e Sugizo deixando o palco após as intensas três primeiras músicas para que o guitarrista Pata, o baixista Heath e o vocalista Toshi executassem Drain – música escrita por hide com pegada mais industrial, com direito a bateria eletrônica, sendo também uma velha conhecida dos fãs.


Sugizo volta ao palco para mostrar sua outra faceta, dessa vez como violinista. Seu solo mesclou trechos das músicas Providence (de sua banda Luna Sea), Miranda (um de seus últimos singles como artista solo) e, para a surpresa e comoção do público, Chega de Saudade, clássico de Tom Jobim, de quem Sugizo é fã declarado. Surge Yoshiki no palco, dessa vez no piano, e ambos dão sequência a um dueto, comprovando toda a versatilidade do X Japan. O dueto termina com a introdução de Kurenai, provavelmente a “Stairway to Heaven” do X, sendo executada nos instrumentos clássicos, para que então os músicos assumissem novamente a guitarra e a bateria, botando fogo no lugar com o restante da banda.



Chega a vez de mais uma música nova, Born To Be Free, que vai estar no próximo álbum da banda, a ser lançado em 2012. A música, com a ousada bateria inspirada em psytrance (estilo musical do qual Yoshiki também é fã) não fez feio, e foi a deixa para que o músico executasse seu solo de bateria na sequência. Pulando de volta ao piano, o líder do X tocou os acordes da já clássica I.V., enquanto Toshi provocava o público a cantar os versos “In the rain / Find a way” por alguns minutos, até que a pesada música de fato começasse. Nesse momento, podíamos ter certeza de quanto os integrantes estavam animados com o show, com Yoshiki interrompendo Toshi para gritar “We are” no microfone do vocalista – mais uma das conhecidas brincadeiras que a dupla costuma fazer um com o outro durante shows.


Mas a hora de entoar o grito de guerra da banda veio logo em seguida, com a música X. Como se estivessem em um show no Tokyo Dome, as quatro mil pessoas do público pulavam com os braços em formato de X no refrão, para depois responder aos gritos de “WE ARE X” do vocalista, durante a pausa da música. Yoshiki aproveitou a deixa para fazer algo que já está se tornando regra nos shows do X fora do Japão: Mergulhar no público. Após o show, ele postou em seu Twitter uma foto em que dizia – satisfeito, no melhor estilo sadomasoquista das letras mais violentas do X - ter mais de dez cicatrizes ganhas nos dois mergulhos que fez durante o show.


A banda sai do palco e o público tenta recuperar o fôlego, sabendo que em seguida viria o encore. Alguns fãs que já previam a setlist se organizaram via Internet para preparar uma homenagem à banda e aos falecidos hide e Taiji. Bexigas vermelhas e amarelas (cores mais marcantes da identidade visual de hide) foram distribuídas e enchidas, decorando então toda a pista durante o discurso emocionado de Yoshiki sobre seus ex-colegas (após dizer que ama guaraná), e nas baladas Forever Love e Endless Rain, tocadas com o músico ao piano. Durante o solo de Endless Rain, as bexigas foram arremessadas no ar, quicando de mão em mão, no que já pode ser considerado um dos momentos mais bonitos da história da banda.




Foi nesse momento que ficou comprovado que o X Japan não faz simplesmente um show, mas sim faz um verdadeiro drama no palco, provocando emoções tão opostas e intensas no público. Era possível olhar ao redor e ver homens e mulheres chorando, por lembranças diversas que as tocantes músicas os traziam, ou simplesmente pela emoção de ver ao vivo uma banda que nem sequer existia mais durante 10 anos. A emoção no rosto dos integrantes também era evidente, principalmente no rosto de Toshi, que parou no meio do palco para admirar a cena dos balões colorindo o lugar, ouvindo o público cantar sozinho durante minutos o refrão, com a banda em silêncio no final da música.


Mas como se isso não houvesse sido intensidade suficiente para o coração de todos, Sugizo surge no palco novamente com o violino para introduzir Art Of Life, a tal música de meia-hora que salvou a vida de Yoshiki no passado. A versão tocada atualmente nos shows tem “somente” cerca de 15 minutos de duração, sendo executada a partir do extenso e caótico solo de piano, seguido de destruidoras performances de guitarra, baixo, bateria e o vocal – mais em forma do que nunca – de Toshi, resultando em um apoteótico e vibrante final para o show.


E se você ainda se pergunta o que o público brasileiro achou do show da tal “maior banda de rock do Japão”, eis a resposta nesse vídeo, filmado durante o playback de baladas após a saída dos integrantes do palco:




Um detalhe que devemos mencionar é que, como é possível ver no vídeo, o show foi todo registrado pela banda, com direito a grua, cinegrafistas no meio da multidão e fãs sendo entrevistados na fila. Será que teremos um DVD sobre o X Japan no Brasil ou mesmo sobre a turnê latino-americana? O jeito é ir separando as moedas no cofrinho e o lugar na estante.


SETLIST:

New Intro

  1. Jade
  2. Rusty Nail
  3. Silent Jealousy
  4. Drain
  5. Violin Solo (SUGIZO)
  6. Piano Solo (YOSHIKI)
  7. Kurenai
  8. Born To Be Free
  9. Drum Solo (YOSHIKI)
  10. I.V
  11. X

Encore:

  1. Forever Love (Piano Version)
  2. Endless Rain
  3. Art Of Life (2nd Movement)

Ending (playbacks):

Tears (English Version)

Forever Love (Acoustic Version)


[Agradecimentos à Yamato Music e à Hayai Assessoria]

Continua...

Crítica: Conan - O Bárbaro (2011)

Assistir o novo Conan – O Bárbaro é uma experiência penosa. E isso deve ser a maior ofensa que um filme de ação pode receber. Dirigido por Marcus Nispel, que antes já havia cometido "obras" como Desbravadores e a refilmagem de Sexta-Feira 13, o longa, que adapta o material criado por Robert E. Howard, não consegue se estabelecer como o filme de gênero que tem a pretensão de ser por diversos fatores. O principal é a falta de tato de seu diretor, que parece não saber os princípios básicos da linguagem cinematográfica, pois é incapaz de conceber um quadro sequer em que o assunto principal da cena possa ser devidamente identificado pelo espectador. Durante as sequências de batalha fica ainda mais evidente a incompetência de Nispel. Quando o longa fica movimentado é quase impossível definir o que o cineasta está tentando mostrar.

A trama tem praticamente os mesmos elementos mostrados no filme original do personagem, que ajudou a moldar a carreira de Arnold Schwarzenegger. A diferença é que ao invés do feiticeiro Thulsa Doom, quem dizima a aldeia onde Conan (Jason Momoa) nasceu e mata seu pai é Khalar Zim, vivido aqui por Stephen Lang. Depois que o cimério cresce, se torna um grande guerreiro em busca de vingança. Ao mesmo tempo, Zim ainda pretende angariar mais força, ao usar uma máscara que lhe trará poderes infinitos. Além disso, o vilão quer trazer de volta sua esposa morta, num ritual de sacrifício. E é isso. A mocinha a ser sacrificada calha de ser o interesse romântico do protagonista (Rachel Nichols) e não há mais nada de relevante a dizer sobre a história.

A primeira adaptação do guerreiro cimério não chega nem perto da obra de Howard, mas funciona como longa-metragem. Com roteiro do então desconhecido Oliver Stone e dirigido por John Milius, o filme mostrava um Conan que não condizia com a condição de ladrão e falastrão idealizada por seu criador, porém era muito eficiente dentro de sua proposta, com uma direção de arte criativa e uma trilha sonora inesquecível, composta por Basil Poledouris. Já esta nova versão tenta estabelecer Conan de acordo com a descrição dos livros, e falha de forma grotesca. Ou seja, às vezes, não ser fiel é mais satisfatório do que tentar respeitar o material base e se tornar uma completa bagunça.

O intérprete do Bárbaro também é um dos motivos do longa falhar tanto. Momoa não tem o carisma necessário pra convencer como o Conan que o roteiro de Thomas Dean Donnelly, Joshua Oppenheimer e Sean Hood erra tanto ao tentar mostrar. Os dois primeiros roteiristas, inclusive, já haviam sido responsáveis por outra bomba em 2011, o terrível Dylan Dog, versão americana do popular personagem de quadrinhos italianos. O ator até tenta, mas não consegue. É limitado demais pra esboçar qualquer coisa além da voz quase gutural e dos gritos de batalha.

E, por fim, a trilha sonora de Tyler Bates, provavelmente a composição menos inspirada deste ano. O músico já havia plagiado tão bem seu colega Elliot Goldenthal quando compôs a trilha de 300, que poderia ao menos ter tentado criar algo próximo à música de Poledouris da versão oitentista de Conan. Mas não, preferiu juntar umas notas genéricas e por fim, criou uma peça que nem no filme é satisfatória, não conseguindo estabelecer um único tema, incluindo para o personagem principal.

É realmente uma pena que uma obra tão aberta a possibilidades como a saga de Conan (seja nos livros ou em sua versão em quadrinhos) tenha caído nas mãos de uma equipe tão incompetente. E é até irônico imaginar que a desculpa pra se criar reboots de franquias que já tiveram seus dias de glória seja justamente reapresentá-las para um novo público. Pobre de uma geração que terá como referência esse longa de Marcus Nispel. Tomara que sirva para trazer à tona o original com Schwarzenegger, bem mais digno e menos doloroso de aturar.
Continua...
 
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