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Crítica: A Hora do Espanto (2011)

Os anos 80 foram marcados por produções que divertiram platéias no mundo inteiro, de forma inteligente, respeitando quem estava sentado na poltrona do cinema. São vários os frutos dessa década, e A Hora do Espanto, um filme sobre um garoto que desconfia das atitudes noturnas de seu novo vizinho até descobrir que ele na verdade é um vampiro, se tornou um clássico do gênero "terrir" por conseguir "encantar" seu espectador, quase como uma Criatura das Trevas. Usando uma premissa similar à Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock, mas inserida num contexto sobrenatural, o longa oitentista, dirigido por Tom Holland, também lança mão de momentos sensuais, pitadas de violência e muito bom humor pra contar uma trama com significados até "profundos", como o despertar sexual do casal protagonista.

A nova versão, que agora tem Craig Gillespie no comando, segue pelo mesmo caminho e é um dos raros casos de remakes que fazem jus ao original. E vai além, chegando a melhorar alguns pontos da trama, embora enfraqueça seu último ato. Algumas mudanças foram feitas em relação ao primeiro filme e boa parte delas residem em Charlie, o protagonista vivido por Anton Yelchin e no "caçador de vampiros" Peter Vincent, interpretado por David Tennant. Um exemplo dessas alterações é que o longa começa mostrando Yelchin como um personagem quase desprezível. Ele é um ex-nerd (isso é possível?) que agora se vangloria por ter uma bela namorada e ser mais popular que em sua época mais "inocente". Já Tennant cria um Peter Vincent completamente diferente daquele encarnado por Roddy McDowall, e não de uma forma completamente positiva. Uma das forças do original era ter o especialista em mistérios como uma representação da busca pela fé, não em Deus, mas em si mesmo. Aqui, não há o desenvolvimento dessa motivação do personagem, e o roteiro de Marti Noxon ainda tenta forçar uma desnecessária origem para Vincent, como se a platéia não conseguisse aceitar um trapaceiro sem um passado trágico. Não fosse a interpretação de Tennant, o personagem teria sido uma falha gigantesca no longa, compromentendo toda sua estrutura.

Mas, o lado positivo de A Hora do Espanto tem maior espaço do que o negativo, já que as mudanças criadas para realmente melhorar a trama são muito mais sentidas aqui, principalmente por quem conhece a obra original. E é impossível falar sobre essas melhorias sem citar Toni Collette, no papel da mãe de Charlie. No longa de 85, uma personagem tão dispensável que simplesmente desaparece da história, agora se revela uma grata surpresa. O vampiro Jerry também supreende. Colin Farrel está muito à vontade como o vilão e parece estar, genuinamente, se divertindo com os maneirismos que criou para ser galanteador, ameaçador e engraçado, não nessa ordem mas, em alguns pontos, tudo ao mesmo tempo. E há Christopher Mintz-Plasse, como o amigo de Charlie, Ed, que aqui é quem desconfia de Jerry e tenta alertar o protagonista, sem muito sucesso.

O diretor, Gillespie, se sai muito bem, particularmente nos dois primeiros atos do longa. Sua direção é segura o suficiente para não se apressar em contar a história, fazendo surgir momentos de pura inspiração. A invasão de Charlie à casa de seu vizinho vampiro, por exemplo, demonstra um cineasta que, mesmo abraçando por completo a premissa descompromissada da produção, não se esquece de que está comandando um longa pra cinema (e não um produto genérico qualquer) e usa artifícios muito criativos pra chegar ao suspense. Sem medo de fazer uso de longos takes, Gillespie também cria sequências de ação muito bem executadas, como a perseguição, que traz o ponto de vista apenas do interior do carro, num plano sequência que só não é melhor por conta do chromakey evidente, usado para criar a ilusão do veículo em movimento.

O roteiro também é feliz ao inserir referências pop aos diálogos. Aliás, não tem como mencionar isso sem citar a brincadeira com Crepúsculo. Era inevitável. Por ser um longa que mostra o vampiro tradicional, predador, violento e monstruoso, seria impossível deixar os personagens que brilham no sol, ao invés de explodirem, de fora da brincadeira. E A Hora do Espanto é bem isso mesmo, sem a mínima vergonha de fazer piadas em momentos de tensão. E o melhor, sem soar pastelão.

Já o último ato acaba surgindo um tanto apressado, dando a impressão de que a história precisa muito se encerrar a qualquer momento, prejudicando, inclusive, o desfecho de Peter Vincent, que no original acaba sendo mais satisfatório, já que faz mais sentido dentro da proposta do personagem. Mas, no final, A Hora do Espanto vem para mostrar que remakes conseguem se sustentar quando buscam algo diferente. Atualizar a trama e trazer novidades suficientes pra fazer até os fãs do original se interessarem, é um exemplo a ser seguido em meio a tantas refilmagens. Afinal, se um filme se tornou popular a ponto de merecer uma nova versão, esta, por sua vez, precisa, pelo menos, tentar trazer o mesmo impacto, respeitando tanto o original, quanto o público. E isso, A Hora do Espanto faz com grande competência.

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Alguns links de referência:

Um breve comentário sobre A Hora do Espanto original, no especial Ser Vampiro nos Anos 80 era um Barato!

Podcast do RE-ENTER cujo tema foi remakes!

P.S.: Procure assistir a versão 2D do longa. O 3D está terrível e atrapalha na maior parte da projeção, por se tratar de um filme escuro.
Continua...
 
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