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Crítica: Gigantes de Aço

Parece que 2011 será mesmo conhecido como o ano em que os filmes com expectativa baixa, surpreenderam público e crítica. Primeiro, X-Men: Primeira Classe veio pra mostrar que a franquia, que parecia desgastada, ainda tem fôlego. Depois, Planeta dos Macacos - A Origem, uma série que muitos consideravam ultrapassada, conseguiu despertar inúmeros elogios. Agora, com Gigantes de Aço, a surpresa se repete. Desde que anunciada sua produção, o longa gerou mais desconfiança do que esperança, principalmente pelo nome escolhido pra comandar o projeto. Shawn Levy, conhecido por comédias bobas como A Creche do Papai e Uma Noite no Museu, não era exatamente a opção mais óbvia pra fazer uma ficção científica que une aventura e drama familiar. Mas, graças a um roteiro bem amarrado e interpretações certeiras, o diretor consegue mostrar que é capaz de criar situações inspiradas, mais baseadas na emoção no que na ação.

A premissa do filme é simples. Num futuro, onde o boxe não é mais disputado por seres humanos, mas por robôs, um ex-pugilista, Charlie Kenton (Hugh Jackman) tenta ganhar a vida colocando seu lutadores autômatos em disputas ilegais. O problema é que sua impulsividade o fez se afundar em dívidas. No meio tempo, descobre que uma antiga namorada morreu, e que o filho que teve com ela terá a guarda decidida nos tribunais. Muito da motivação distorcida de Kenton fica evidente quando ele decide cobrar do tio rico do garoto, uma alta quantia para abrir mão da tutela. Jackman começa o longa com um personagem complexo e cujas atitudes não despertam a simpatia do público. Já o menino, Max (Dakota Goyo) é incrivelmente esperto e cativa o espectador imediatamente. Graças a esse enorme carisma, Charlie começa a mudar e revelar que erros do passado e uma terrível falta de confiança em si mesmo, ajudaram a moldar sua imagem. Em uma passagem pelo ferro-velho pra conseguirem peças de manutenção, encontram Atom, um robô antigo, usado como treino para os competidores. Surpreendentemente funcionando, o andróide conquista o carinho de Max, que convence o pai a colocar Atom para lutar. Para a surpresa geral, o azarão acaba vencendo várias lutas, alçando sucesso o suficiente pra competir na Liga Oficial do Boxe de robôs.

Impossível não entrar no mérito de efeitos especiais, que não aparecem de forma artificial, criando lutas muito bem detalhadas. Além disso, a direção de Levy, que em momento algum soa megalomaníaca, destaca muito bem os robôs, que com movimentos fluidos da câmera, não se perdem na tela. A isso também, se deve muito à direção de arte do longa, que criou lutadores bem distintos, cada um com características próprias e que não deixam o espectador confuso. Destaque para o design de Atom, que evidencia expressões onde não deveriam existir. Como os robôs não tem rosto, cabem à marcas da sua idade avançada, a função de evidenciar o passado triste que fica implícito pelo background do personagem. Sua criação foi pra que servisse de saco de pancadas. Atom foi feito para apanhar, nunca revidar, e isso fica evidente pela quantidade de amassados (ou cicatrizes) que o robô ostenta. Apenas um "sorriso" no seu rosto, fica um pouco piegas e acaba criando uma subtrama sobre uma possível personalidade do robô que nunca é completamente desenvolvida, gerando um dos poucos momentos desnecessários do filme.

Apesar de sua trama previsível, Gigantes de Aço é muito consciente do que é, e nunca tenta ser algo além daquilo a que se propõe: uma aventura para criar laços entre um pai e um filho que não se conheciam. A sinceridade do roteiro, aliada a direção de Levy, que sabe quando precisa fazer o público rir, se empolgar ou se emocionar, nos momentos certos, tornam o filme tão surpreendente do ponto de vista de sua qualidade. E mesmo as inúmeras semelhanças ou inspirações em Rocky - Um Lutador e Falcão - O Campeão dos Campeões, não atrapalham. Muito pelo contrário, criam uma ligação ainda maior com o espectador familiar a ambos os filmes e que sentem falta de mensagens, até clichês, mas que não falham quando o assunto é a emoção.

Enfim, na história do robô azarão, Levy cria um espelho de si mesmo. Cineasta cuja carreira trouxe apenas algumas tolices, agora está na mira de grandes estúdios para comandar inúmeras produções. Tudo graças a boa recepção de Gigantes de Aço, que num ano recheado de películas que prometiam muito, mas entregaram pouco, surge como uma surpresa bem-vinda. E coloca a nocaute um dos argumentos mais usados dos últimos anos: o de que não se pode esperar muita coisa num filme sobre robôs que lutam.
Continua...
 
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