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Crítica: Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

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  • sexta-feira, 23 de maio de 2008
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  • Alexandre Luiz
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  • Você pode ser uma daquelas pessoas torcendo o nariz para Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal. E não se preocupe, é compreensível. Depois de quase 20 anos longe das telas, o personagem pode ter aquela aura de “descanse em paz”. Sabe, aquele sentimento que nos pega sempre quando uma continuação de algo marcante para nossa infância é anunciada. Principalmente uma série como a do arqueólogo, que se encerrou (pelo menos é o que achávamos) tão bem com A Última Cruzada. Não seria melhor que George Lucas e Steven Spielberg deixassem isso de lado? E Harrison Ford então! O coitado não conseguiu nenhum papel realmente marcante desde seu outro herói, Jack Ryan, o agente da CIA dos livros de Tom Clancy. Pra que mexer num personagem justo agora, você se pergunta. Bem, se esse é o seu caso, vamos a algumas respostas. Primeiro, não, Steven e George não iriam deixar Indy de lado. Primeiro porque é uma franquia lucrativa. E depois, bem, isso leva a resposta da última pergunta, então espere um pouco. Sobre Ford, não há motivo melhor pra ele retomar o chapéu e o chicote. É a chance de mostrar pra quem o conhece como ele continua sendo o maior herói do cinema, e pra quem não o conhece que ele é bem melhor do “coroa” de filmes do naipe de Firewall e outras bombas. Agora, vamos responder a essa ultima pergunta, na verdade a mais simples: o cinema não oferece nada novo e divertido há muito tempo. Um filme-pipoca, feito não só pra quem quer entretenimento, mas pra quem adora cinema e sabe a origem deste tipo de história. A trilogia clássica chamava atenção justamente por seu clima saudosista. Os seriados dos anos 30 foram a inspiração pra caracterização de Indiana Jones, pros temas, pro tipo de ação. Agora, o novo filme também é saudosista, mas de uma maneira muito própria. Antes era a geração de Spielberg e Lucas que se lembrava de como era bom ir ao cinema num sábado a tarde. Agora é a nossa. Nós é que crescemos assistindo Indy, seja na telona ou seja nas sessões da tarde. O diretor e o produtor do filme também passeiam agora por outro gênero: o da ficção científica dos filmes B dos anos 50, justamente a época em que a nova aventura é situada.


    E tudo isso valeu a pena? Claro que valeu. Ford ainda é Indiana Jones, aliás, ele nunca esteve tão a vontade com isso. É impressionante como, apesar dos 19 anos sem intepretar o personagem, nada ficou de fora. Seus trejeitos, sua maneira canastrona de enfrentar o perigo, seu humor deliciosamente fora de contexto (quem em sã consciencia pede pra dar marcha a ré quando se está prestes a despencar de uma cachoeira?). Está tudo lá. Talvez a perfeição na interpretação seja para compensar sua idade avançada que já não da conta do recado como nos velhos tempos, fator que também não atrapalha. Indy não é Super-Homem. A idade chegaria um dia e ele abraça isso com perfeição. A música-tema ainda está lá, pra arrepiar qualquer um que nunca a tenha escutado no cinema. Os vilões caricatos também. Aliás, que história é essa dos críticos virem dizer que Cate Blanchett força a barra como a comunista psíquica? Como se a galeria de nazistas e feiticeiros indianos fosse composta por vilões humanizados. O mesmo aqui vale para a trama. Já não é segredo que desta vez o artefato que heróis e bandidos correm atrás é uma caveira de origem alienígena. E ainda há quem reclame, dizendo que está fora dos padrões. É, realmente, fora dos padrões da arca de onde saem raios e fantasmas, das pedras que se incendeiam e do cálice que dá vida eterna. Façam o favor, vocês críticos frustrados: parem de procurar pelo em ovo. Esta quarta aventura é um autêntico filme de Indiana Jones, como os fãs esperaram por quase duas décadas!


    Outra polêmica do filme foi a adição de Shia Labeof no elenco, como Mutt. Em primeiro lugar, Shia é um ator e tanto. O garoto é talentoso e Spielberg gosta disso. E seu personagem... sinceramente, depois de tanto tempo fora das telas, alguem realmente duvidou que numa quarta investida, Dr. Henry Jones não voltaria se descobrindo pai? Até o herói kryptoniano citado acima foi vítima de uma paternidade “indesejada”. Mas aqui, com Indy, o contexto funciona. Não que Mutt seja seu substituto. Um garoto aventureiro já caiu nos braços de Spielberg, e ele se chama Tintim. Muito improvável que o diretor caia na armadilha de ser comparado com ele mesmo, se resolver continuar a saga com um jovem Jones. Mesmo que Lucas queira um filme com Mutt, este não é um personagem forte o suficiente para segurar um filme próprio, principalmente sendo uma continuação de uma franquia deste porte. A série sempre será de Indiana. Aliás, as cenas com os dois funcionam muito bem. A sequência da perseguição com a moto por entre o campus da universidade faz uma homenagem a relação pai-filho mostrada em A Última Cruzada. Ford e LaBeof realmente criaram uma química muito boa.


    E o retorno de Marion Ravenwood, a única mulher páreo para Indy? Apesar de não ter o tempo de tela que os fãs queriam e nem a importância que deveria ter, Karen Allen continua sendo a mesma. Ela ainda é a unica mulher para o Dr. Jones, sem dúvida. Os outros atores de suporte não fazem feio, apesar de não terem seu talento totalmente aproveitado. Ray Winstone como o sidekick inglês é divertido em todas as suas cenas, mas ainda deixa a desejar. Suas motivações e seu caráter são tão profundos quanto piscina infantil de clube de campo. E Oxley, o colega desaparecido de Jones, interpretado por John Hurt, não convence como convenciam Marcus Brody e o Dr. Henry Jones de ...Cruzada.


    Um fator que chama atenção neste quarto filme é a opção de Spielberg em não seguir as regras de hoje. Edição de videoclipe? Bem, se é isso que você busca, está no filme errado. O diretor ainda pode contar com as mãos competentes de Michael Kahn, seu editor há anos e detentor de um incrivel senso criativo. O ritmo do filme continua o mesmo dos originais.


    Quanto aos efeitos especiais, pode ser mesmo que haja um abuso de CGI. As cenas com os macacos digitais realmente ficaram um tanto forçadas e até desnecessárias. Mas nem por isso não são divertidas. Apenas não combinam muito com o tipo de ação dos filmes anteriores, sempre privilegiando as proesas feitas “na marra” do que as cheias de efeitos mirabolantes.


    Todo esse conjuto de qualidades e defeitos obviamente indicam que Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal não é um filme perfeito. Mas é, pelo menos, sincero. É uma produção que leva, a quem assiste, a um lugar na memória que todos reservamos para os heróis que fizeram parte de uma época em que éramos inocentes o suficiente para nos encontrar presos a poltrona do cinema numa cena de ação bem coreografada. E, como é bom sentir isso de novo. Se você ainda tem dúvidas se um novo Indy era necessário, bem, então você realmente precisa de uma experiência assim.

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